O arquiteto italiano que a Irmandade dos Clérigos admite possa ter sido sepultado naquela cripta, descoberta durante a empreitada de reabilitação, foi quem, há mais de 200 anos, projetou a igreja e a torre anexa, de 76 metros de altura e uma escada em espiral com 240 degraus, que é considerada o ‘ex-líbris’ da cidade do Porto.
Anunciada pelo presidente da Irmandade dos Clérigos, Américo Aguiar, no dia 12 de dezembro de 2012, a renovação da Torre e da igreja anexa foi inaugurada dois anos depois, permitindo assim, segundo o responsável, “devolver a Torre à cidade”, com um museu de Cristo, elevador, novos acessos e concertos de órgão de tubos.
Na ocasião, Américo Aguiar enalteceu o monumento, que ganhou, 235 anos depois da sua primeira inauguração, o mesmo “esplendor” de 1779, com os “pretos e cinzentos”, acumulados pelo tempo, a darem lugar aos “rosas, dourados e brancos”.
“Os Clérigos têm agora a tradição e modernidade e a cultura e culto de mãos dadas”, disse, então, Américo Aguiar.
As obras na igreja puseram a descoberto uma cripta do século XVIII com diversas sepulturas, sendo que uma poderá ser de Nicolau Nasoni.
A equipa de investigadores que trabalha no projeto de identificação das ossadas conseguiu identificar 26 pessoas na cripta da igreja, dos quais 12 homens, incluindo o bispo eleito de Aveiro António de Santo Ilídio, que morreu em 1849.
Foram ainda identificados sete não adultos, seis mulheres e os restantes crianças de diferentes idades.
Os trabalhos de investigação prosseguem, sendo que, nesta fase, a equipa procura descendentes de Nicolau Nasoni, em Itália, para recolha e comparação de ADN.
As obras na igreja dos Clérigos revelaram áreas que eram até então desconhecidas naquele espaço, permitindo uma “visita de 360 graus” ao edifício.
O espaço intervencionado rondou os 4.500 metros quadrados, foram instalados 13 quilómetros de cabos elétricos e gastos 60 quilos de algodão, 140 mil folhas de ouro e 200 litros de álcool etílico.
O investimento total, de cerca de 2,6 milhões de euros, foi comparticipado em 1,7 milhões pelo Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN), cabendo os restantes 800 mil euros à Irmandade dos Clérigos, com recurso a financiamento do programa Jessica.
Desde a inauguração, em dezembro de 2014, o número de visitantes da Torre dos Clérigos tem vindo a aumentar, tendo ascendido a cerca de meio milhão de pessoas, em 2015, e 625 mil, no ano passado.
Destes visitantes em 2016, a grande maioria (85%) eram estrangeiros, dos quais 40% espanhóis.
De acordo com informação disponível na página da internet da Direção-Geral do Património Cultural, a Torre dos Clérigos, que fica no Centro Histórico do Porto e está classificada como Monumento Nacional, é, “não apenas a obra mais documentada mais antiga” de Nicolau Nasoni, “mas também aquela que maior projeção conheceu”.
“Facto que se deve, em grande medida, ao impacto do conjunto, à sua complexidade e à estranheza das formas, no sentido em que eram pouco comuns à arquitetura da época, e em particular ao Norte do país”, acrescenta a DGPC.