Da próxima vez que for comer fora no Porto é possível que veja um desdobrável vermelho na mesa do restaurante que diz o seguinte: “Quem não come tudo, Embrulha.”, seguido de uma explicação que a comida que ficou na travessa pode ser levada para a casa sem qualquer custo, numa embalagem especialmente desenhada para o efeito. É o regresso do projecto Embrulha que, depois de uma breve passagem pelos restaurantes portuenses em 2016, chega com novas ambições.
A iniciativa lançada no ano passado esteve no terreno apenas durante uma semana — depois de meses de estudos e inquéritos a estabelecimentos e clientes —, e conseguiu evitar o desperdício de cerca de 30 quilos de alimentos. Mas agora é diferente: o Embrulha vai estar mais tempo à mesa dos restaurantes. A iniciativa, segundo a responsável pelo projecto, Susana Freitas, “é para continuar e crescer de forma sustentável” ao longo do tempo.
Esta continuidade vai andar de mão dada com a vontade dos restaurantes. Numa conferência de imprensa marcada para anunciar o relançamento do projecto, o vereador da Inovação e Ambiente da Câmara Municipal do Porto, Filipe Araújo, reconheceu isso mesmo: “Temos que trabalhar muito com os restaurantes porque são eles que vão dar a conhecer o projecto às pessoas”.
Segundo a Lipor, a empresa que trata do lixo da região, o objectivo passa por “reduzir a fracção alimentar nos resíduos urbanos produzidos neste município”. Para já, os primeiros sinais são animadores. A comida pode ser embrulhada em 31 restaurantes do Porto, ou seja, o interesse duplicou no espaço de um ano pois em 2016 aderiram 15 estabelecimentos.
Em 2016, o projecto foi conduzido com a Lipor, em parceria com um grupo de estudantes da Universidade de Wageningen, na Holanda. Os resultados foram positivos e incentivaram esta nova edição: na altura, o grau de satisfação de clientes e restaurantes superava os 80%.
Acabar com o estigma
No que toca à redução do desperdício alimentar, o Embrulha é apenas um exemplo das actividades que a Lipor e os municípios associados — Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde — têm vindo a dinamizar nos últimos tempos. Para o vereador Filipe Araújo, é este o caminho a seguir para deixar para trás a economia linear e transitar para uma circular.
Este ano, o Embrulha conta com a parceria da Associação Portuguesa de Hotelaria Restauração e Turismo (APHORT), que ajudou na captação de restaurantes. “Toda a gente está mais sensibilizada. Por parte dos estabelecimentos, ninguém gosta de deitar comida fora. O mesmo se passa ao nível do consumidor, há mais receptividade para este tipo de campanhas”, sintetiza Helena Carrelhas, engenheira alimentar, que representou a APHORT na apresentação do projecto.
No entanto, no entender do vereador, o que muitas vezes impede que as pessoas peçam para levar comida para casa, é a “vergonha”. Este impulso por parte das entidades envolvidas — à Câmara do Porto, e Lipor junta-se a APHORT e a HIDurbe — quer também deixar para trás o estigma de pedir para levar o que ficou na travessa.