Ficar “até à noite sem dar fé do tempo que faz” é um dos lamentos mais ouvidos, ao passo que o negócio divide opiniões: para alguns dos 82 comerciantes que transitaram para o MTB as vendas correm “tão bem como antes”, outros queixam-se da “falta de turistas” e “publicidade”, enquanto os vendedores de hortaliça alertam que os frescos “vão mais abaixo” por causa do ar condicionado.
Instalado desde 02 de maio num espaço protegido das alterações meteorológicas a que os lojistas “já estavam calejados”, o Bolhão tem agora um burburinho diferente, como se a falta de “ar livre” abafasse conversas e pregões, mas as condições são “tantas” que “até há escadas rolantes” e “nunca ninguém pensou que ficasse assim tão lindo”, descreveram à Lusa os lojistas.
O MTB situa-se em 5.600 metros quadrados do piso -1 de um centro comercial do centro do Porto, na rua Fernandes Tomás, e acolhe 82 dos 100 comerciantes que querem regressar ao centenário edifício do Bolhão, depois da recuperação de 24 meses e do investimento de 22 milhões de euros, previstos pela autarquia portuense.
“Está a correr bem. Sempre tive muitos clientes certos, não notei muita diferença. Mas há menos turismo. Diz-se que quem faz a alma do Bolhão são as pessoas e elas estão aqui, mas este espaço é fechado, parece que abafa. Não sei explicar. É qualquer coisa, o outro edifício”, descreve Nuno Fernandes, filho da “D. Gina”, o mesmo nome do restaurante instalado no Bolhão “há 25 anos”.
Amélia Babo, patroa numa banca de pão e bolos há 35 anos, reconhece que “tinham de arranjar” o “velhinho” mercado que, ao longo dos últimos 30 anos, sucessivos executivos camarários anunciaram querer recuperar.
Para Amélia, o MTB ficou “um luxo, muito lindo e higiénico”, só “não deve estar ainda divulgado para toda a gente, porque o turista não entra tanto”.
“Não é aquilo que era, nem para lá caminha. Lá era uma enchente”, recorda, justificando que o Bolhão original era “mais histórico” e os turistas “adoram aquelas coisas velhinhas”.
Para a comerciante, nada se compara ao antigo mercado: “Ó ‘mor, basta o ar que a gente respira. Entro para aqui às 07:00, não sei se está chuva, se está sol. Só à noite, quando saio outra vez às 19:00, é que dou fé do tempo”, descreve.
Aos 68 anos, Laurinda Araújo conta com 58 de Bolhão, a vender “hortaliça, leguminosas e cereais” e no MTB “o negócio corre bem”.
A “única coisa” é que, com o ar condicionado, “os legumes vão mais abaixo”.
“O nosso Bolhão tem ar e luz do dia. Aqui não sabemos se está sol ou chuva. Mas para arremediar está muito bom mesmo, nem contávamos que fosse assim”, afirma.
Quanto aos fregueses, “no Bolhão era outra coisa, mas estão a vir”.
A peixeira Sara Araújo, de 47 anos, quer voltar “o mais depressa possível”, mas reconhece que o MTB “está muito bonito”, elogiando Rui Moreira [presidente da Câmara do Porto], porque “não prometeu nada e fez”.
O negócio é que “não está a correr muito bem”.
“Muita gente não sabe que a gente está aqui. Tive um freguês de fora do Porto que foi parar à porta do Bolhão e disseram que só abria daqui a dois anos. Acho que não está bem explicado e as pessoas andam meias perdidas”, alerta.
Luísa Silva, de 59 anos de idade e 49 de Bolhão, diz que “o negócio” da salsicharia “está a correr como habitual”.
A anterior patroa de Luísa é, atualmente, a mais antiga vendedora do Bolhão. Aos 82 anos, “Cindinha dos Frangos” tem banca no MTB e espera voltar ao edifício onde começou a trabalhar aos 5 anos, “se estiver viva e bem”.
A gerir a ervanária Natura Bolhão, com 65 anos de história no mercado, Jorge Araújo diz que o negócio “não está a correr muito bem”, porque “ainda faltam muitos clientes portugueses e o turista ainda não está a chegar ao MTB como chegava ao mercado antigo”.
O problema, diz, é a falta “de publicidade”.
“Existem posters pela cidade toda, a dizer que o MTB está no La Vie, mas a maior parte da população não sabe onde fica, quanto mais o turista”, afirma.
Para Alzira Freitas, da banca de pão e doces “Alzira Lourinha”, “as condições do MTB são muito boas” e “não podiam fazer melhor”, “faltam é clientes” e “não se faz o negócio que se fazia”.
Fonte: Lusa