24 de agosto de 1898 – Dia de S. Bartolomeu: vão à Foz tomar o tradicional banho de 7 mergulhos, curando toda a espécie de achaques, milhares de pessoas do Porto e periferia.
A festa de S. Bartolomeu, é a 24 de Agosto. O povo tem o antigo costume de ir à praia tomar o miraculoso banho santo ou dos sete mergulhos. “José Leite de Vasconcelos assistiu em 1880, em Matosinhos, a esta tradição popular. Assim a descreve: “…na véspera à noite e no dia de manhã, chegavam bandos de gente do campo, tocando viola, dançando e cantando.
Em seguida dirigiam-se ao mar a banharem-se… e os aldeãos tímidos, procuravam sobre os afagos do luar, os penhascos mais recatados, onde chegasse a maré, para aí se libertarem das vestes domingueiras, e, com o corpinho em “leitão” darem os sete mergulhos virtuosos. Eis algumas rimas a S. Bartolomeu, recolhidas no concelho de Matosinhos, quando os foliões ao som das banzas e das tocatas se dirigiam para o amplo cenário da beira mar:
Esta viola é minha
Este pandeiro é meu
Este bandinho de moças
Vai p’ró S. Bartolomeu.
Ó vida da minha vida
Adeus, adeus vou p’ró mar;
Eu venho muito suado
Agora vou refrescar.
“Em baixo, perpendicularmente ao litoral, tal como hoje, dispunham-se em fileiras as barracas. Nos topos desses arruamentos os banheiros hasteavam bandeiras, em que estavam escritos os seus nomes: Maria da Luz; Paulino; Leão; etc.
O movimento dos banhos começava mal as estrelas se apagavam no céu. Quem aparecia primeiro na praia, ainda imersa na penumbra da manhã e coberta de neblina, eram os aldeões de Cima do Douro.
Estes banhistas iam para a água com indumentária bastante reduzida; por isso se escondiam eles, o mais possível, entre os penedos. As mulheres vestiam uma simples camisa; os homens nada mais que as famosos ceroulas de atilhos! No fim do banho agasalhavam-se muito; embrulhavam-se o mais que podiam em grossos xailes. Os homens atavam lenços de mulher em volta do pescoço; e só os tiravam passadas muitas horas. Às sete da manhã estavam banhados e almoçados. Entretinham-se conversando uns com os outros, ou ouvindo tocar os cegos que costumavam estacionar junto à Fonte de Cadouços.
A maior parte das famílias que vinham passar o Verão à Foz, começava a preparar-se para sair para o banho às 5 ou 6 da manhã. Pouco depois começavam a chegar os carroções, os jericos, as sege, os caleches, os barcos com os banhistas do Porto. Enchia-se a praia de animação e de gente… Quem arranjava barraca tratava-se de se despir; os outros, enquanto esperavam, passeavam pela beira do mar, saltavam pelos rochedos, conversavam, etc.
Ainda se não tinham inventado os maillots. Se uma senhora daqueles tempo pudesse ver a praia do Molhe à hora do banho, desmaiava horrorizada… se não morresse outra vez. A moral e a polícia de então mandavam que se fosse para a água ainda mais vestido do que se andava em terra.
Em regra os fatos eram feitos de baeta grossa, azul ou preta: os dos homens constavam de camisola de mangas e calças compridas; os das senhoras eram vestidas de cauda… tanto as senhoras como os homens levam calçados sapatos de ourelo”. Artur de Magalhães Basto – A Foz há 70 anos – Conferência pronunciada no Colégio Brotero na noite de 26/6/1936.
“” Como ainda hoje, segundo suponho, a Foz recebia cada ano dois turnos de banhistas. O primeiro chegava em Agosto e retirava no fim de Setembro ou começos de Outubro. O segundo vinha apenas depois das colheitas. Aquele era constituído por gentes do Porto; este por lavradores, gente de Cima do Douro.
Há setenta e oitenta anos (década de 60 do séc. XIX) aqui não havia muito em que passar o tempo. Tomava-se banho, comia-se, passeava-se, dormia-se, jogavam-se cartas ou bilhar na Assembleia da Rua dos Banhos.
Comia-se muito – naturalmente por não haver mais nada que fazer.
Ora ouçam o programa: (segundo Ramalho Ortigão)
“De manhã, depois do banho, às 8 horas (o banho tomava-se aí pelas 6 ou 7!) almoçava-se café com leite e pão com manteiga…Ao meio dia jantava-se. Às Avé Marias… tomava-se chá com pão de Vilar (não confundir com Vilares, os da confeitaria) e biscoitos de Avintes.
Vinha depois o serão: uns costuravam, outros liam…outros jogavam o voltarete; os pobres estudantes de Latim tiravam os seus significados de Tito Lívio e adormeciam – sendo cônsules Márcio Túlio e Públio Vitélio – às oito horas e meia, quando os tambores e as cornetas do Castelo tocavam a recolher, comia-se peixe cozido, bifes, esparregado, enormes quantidades de melão; procedia-se à operação de ir cada um para o seu quarto queimar os mosquitos; e todos se deitavam em seguida”.
Uma vida deliciosa! Tranquila! Bem-aventurada! Sem imprevistos, preocupações ou cuidados. O único cuidado que havia era o de digerir o melão!”
Artigo: http://portoarc.blogspot.com/2013/10/divertimentos-dos-portuenses-xvii.html