Há histórias que não ficam nos livros de história. E quando uma simples plebeia decide que deve ser ela a inaugurar uma ponte em vez da rainha, a história fica apenas guardada pelas palavras do povo e esquecida nos livros. Mas a história que se conta neste artigo dificilmente mereceria entrar em qualquer livro, talvez porque, na verdade, é embaraçosa para todos os intervenientes.
A ponte foi inaugurada em 4 de Novembro de 1877. A cerimónia iniciou-se com um comboio especial, com 24 carruagens, que transportou mais de 1200 convidados desde Vila Nova de Gaia até à ponte. Depois, retornou a Gaia, de forma a deixar passar o comboio real.
Estavam presentes, para tal solene acto, a rainha D. Maria Pia (que daria o nome à ponte), o seu marido e os seus filhos. Estavam ainda Gustave Eiffel e Theófile Seyrig, autores do projecto de construção. Entre os portugueses destacava-se a presença de Pedro Inácio Lopes, chefe da Companhia Real de Caminhos de Ferro Portugueses.
Ora, a plebeia atrevida foi precisamente a esposa de Pedro Inácio Lopes, de seu nome Adelaide Lopes. A senhora cismou que teria que ser ela a primeira a cruzar a ponte e não a rainha e fê-lo mesmo, a pé, desde Gaia.
O mais curioso é que, tal como nos nossos dias, a ponte ainda não estava completamente construída no dia da sua inauguração. Aliás, faltava tanto que, embora servisse para passar o comboio, certas partes da ponte tinham apenas as barras metálicas dos carris e tudo para baixo era abismo em direcção ao rio Douro.
A destemida senhora não se deixou intimidar pelo perigo de cruzar a ponte naquelas condições e prosseguiu com a sua aventura, correndo mesmo perigo de vida enquanto, qual equilibrista de circo, cruzava as barras de ferro dos carris em direcção à margem norte. De nada adiantou o desespero do marido em fazê-la desistir da ideia.
D. Adelaide Lopes, plebeia mas com garra, acabava de inaugurar a ponte antes da rainha.