Antes de ser integrada no Palácio dos Terenas, este monumento foi conhecido como a Torre de Pedro Sem, nobre que, na primeira metade do século XIV, esteve na origem da sua construção.
Chanceler-mor de D. Afonso IV, monarca que mandou dotar a cidade de novas muralhas, a torre residencial, maciça e ameada, cabeça de uma quinta peri-urbana em relação ao burgo medieval, foi a solução de prestígio e de poder que o delegado real encontrou para afirmar a sua presença na cidade.
Posteriormente, veio a ser conhecida com outras designações, nomeadamente Torre da Marca, por confusão com uma outra estrutura de cariz militar, muito perto desta, mandada construir por D. João III em 1542 para orientação “dos navios que demandavam a barra do Douro” (LIMA, 2001, p.43), e Torre do Palácio dos Terenas, em referência ao palácio que lhe foi associado em finais do século XVIII.
Mas, durante toda a Idade Média, foi conhecida como Torre de Pero Sem, mantendo-se na sua família por quase dois séculos.
Em 1431, ainda estava na posse dos descendentes do seu primeiro proprietário, sendo referida no testamento de Martim d’Océm, chanceler do rei D. Duarte e que se fez sepultar em São Domingos de Santarém, estando o seu túmulo hoje no Museu de São João de Alporão.
No final do século XV, porém, um outro Pero Sem vendeu-a a João Sanchez e sua mulher, Isabel Brandoa (LIMA, 2001, p.44). Dava-se, assim, início à longa relação desta propriedade com os Brandão, família que, no final do século XIX, associou à velha torre medieval um dos mais importantes palácios urbanos do Porto. Igualmente conhecido como Marqueses de Terena, a quinta acabou por adoptar também essa designação.
O primitivo espaço, periférico em relação à cidade, estava já sob pressão urbanística e a antiga Quinta da Boa Vista (como era conhecida no século XV) transformou-se numa propriedade urbana, vinculada urbanisticamente ao Porto. É neste contexto que se inscreve a construção do Palácio setecentista, obra de arquitectura urbana, de fachada monumental a dois andares e abrindo para uma ampla praça. O impacto urbanístico do paço relegou a velha torre medieval para um plano secundário; em todo o caso, ela foi preservada pelo projecto tardo-barroco, sinal da sua importância simbólica (enquanto marca de prestígio residencial), muitos séculos depois de Pedro Sem.
A torre, apesar das múltiplas adulterações por que passou, mantém um figurino geral medieval. A fachada principal, virada a nascente e única frente visível, está organizada em três andares, apreensíveis do exterior pela disposição das janelas, as do terceiro registo de feição neo-gótica, reflectindo as sucessivas alterações efectuadas. A entrada principal apresenta um arco apontado ao centro, e outra entrada secundária, em arco recto, foi aberta mais para Norte. Entre os dois primeiros andares, algumas janelas, dispostas assimetricamente, provam as diferentes organizações espaciais do interior, ao longo dos séculos.
Infelizmente, pouco sabemos acerca da organização interior inicial. Em 1919, o imóvel foi adquirido pela Diocese do Porto, que aqui instalou o seu paço episcopal, por haver sido desalojada do morro da Sé pelas nacionalizações a seguir à implantação da República.
Mais recentemente, em 1986, a torre foi adaptada a área residencial da diocese, por projecto do Arquitecto Abrunhosa de Brito, transformando-se integralmente toda e qualquer estrutura medieval ou moderna que, à época, ainda subsistisse. Em 1995, aqui veio a instalar-se a Fundação SPES, organismo criado por disposição testamentária de D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto de 1952 a 1982, para o desenvolvimento “de uma civilização do Amor e da Beleza” (LIMA, 2001, p.46, cit. testamento).
PAF