Na freguesia da Madalena correu uma lenda que dava, entre o povo, pelo nome de Pedra Moura ou Bicha Moura. Uma moura infeliz ter-se-ia transformado em bicha a fim de, por via de uma falta grave, cumprir um desditoso fadário.
Esteve assim encantada nuns rochedos que se situavam no lugar do Monte Crasto, da freguesia referida.
Refere a tradição das gentes: que, no topo do rochedo, a bicha moura — que era enorme, metade mulher metade réptil — aparecia em noites de luar, e às vezes até de dia, deixando na sua caminhada rastejante um rastro aurifulgente.
Havia quem atribuísse à bicha o dom de tomar formas humanas através uma figura de sereia de compridos cabelos.
Ninguém poderia aproximar-se dela pois correria o risco de se transformar em bicha ou mesmo em pedra. Essa convicção inspirava medo em muitos madalenenses e o respeito todos pelo menos.
Mas, um dia, aquela pedra grande que era objecto dos receios das populações foi sacrificada a tiros de dinamite e a lenda perdeu toda a sua magia.
Durante algum tempo chegaram-se a fazer romagens para ver a bicha e parece que algumas pessoas pregavam partidas, fazendo-se passar pela bicha. Aquela pedra grande foi eventualmente destruída a tiros de dinamite e a lenda foi-se perdendo. No entanto, há ainda quem tenha um receio miúdo de passar pelo Coteiro do Crasto ou a ele subir, principalmente à noite
Fonte BiblioVALLE, Carlos Revista de Etnografia, Tradições Populares de Vila Nova de Gaia Porto, Junta Distrital do Porto, 1965 , p.129-130