A rua das Carmelitas, no Porto, fechada desde a Páscoa devido ao elevado afluxo de turistas à Livraria Lello, vai manter-se cortada ao trânsito automóvel, ficando o seu acesso restrito a cargas e descargas, informou esta quinta-feira a autarquia.
Questionada novamente pela Lusa, depois de a administração dos armazéns históricos Marques Soares ter revelado esta quinta-feira, à Lusa que o encerramento daquela artéria tinha sido consensualizado com a Câmara do Porto e com a Livraria Lello, a autarquia confirmou que a decisão não só tem caráter definitivo como está materializada desde o dia 19 de abril, “estando a Câmara do Porto a monitorizar o seu funcionamento para posterior formalização”. Uma decisão que, segundo vários comerciantes ouvidos pela Lusa, não terá sido ainda comunicada.
Na resposta enviada à Lusa, a Câmara do Porto explica que o município “iniciou há cerca de dois anos o processo de análise e realização de projetos com o objetivo de condicionar o acesso automóvel à Rua das Carmelitas, Rua de Cândido dos Reis e Rua das Galerias de Paris”, uma decisão que decorreu “da grande afluência de pessoas durante o período noturno à zona da movida e diurno ao comércio local, bem como pela ligação entre a zona dos Clérigos e a Praça de Gomes Teixeira (Praça dos Leões) e Praça de Carlos Alberto”.
Sendo esta uma intenção da autarquia, e confrontada com uma grande afluência à zona das Carmelitas, o município, refere a câmara “decidiu adotar o mesmo esquema de funcionamento das restantes zonas de acesso condicionado da cidade para maior comodidade dos seus utilizadores”.
Assim, o acesso livre para cargas e descargas far-se-á entre as 6h30 e as 11h00, ficando a rua encerrada ao trânsito fora deste horário e com acesso controlado a partir do Centro de Gestão Integrada, apenas para veículos autorizados.
A autarquia lembra que, no que diz respeito ao período noturno, o acesso já é restrito a partir de sexta-feira à noite e durante o fim de semana, contudo, “ainda assim, o município tem recebido pedidos por parte dos empresários associados à movida e ao comércio diurno, para a pedonalização daqueles arruamentos, nomeadamente a Rua das Galerias de Paris”.
O administrador da Marques Soares, Vasco Antunes, explicou hoje à Lusa que, juntamente com a Livraria Lello, tinham chegado a um entendimento com a Câmara do Porto quanto à necessidade de reorganizar aquela área, o que passaria pelo encerramento das ruas das Carmelitas, Cândido dos Reis e Galerias Paris. “Ter uma fila a bloquear o acesso à nossa loja, quando estamos a fazer um investimento muito avultado de modernização dos nossos espaços – cerca de 3.000 metros quadrados – é complicado”, afirmou em declarações à Lusa.
No entender de Vasco Antunes, esta decisão em nada vai prejudicar os comerciantes daquela artéria, bem pelo contrário, já que com permite a livre circulação de pessoas.
Já Ana Maria Magalhães, proprietária de uma florista, que falava à Lusa ainda antes da confirmação dada pela autarquia, lamentava que a decisão tivesse sido tomada sem a autarquia tenha ouvido todos os comerciantes. “Tenho de fechar a porta para ir buscar dois molhes de rosas porque o segurança às 07h00 não deixou o fornecedor descarregar. É uma falta de respeito pelos comerciantes. Não podemos ser prejudicados pelo movimento dos turistas”, afirmou.
Já Nuno Torres, da Joalharia Anselmo, admite que o caminho a seguir naquela zona do centro é encerrar o acesso ao trânsito automóvel, mas sublinha, contudo, que qualquer decisão deveria ter sido discutida com os comerciantes. “Nós estamos habituados aos grandes movimentos de junho e julho e nunca fechou. Se é definitivo é um bocado estranho. Como é que se pode fechar uma rua por causa de uma loja”, questionou.
Questionada pela Lusa, antes da confirmação do encerramento definitivo da rua das Carmelitas, Rute Martins, do Departamento de Marketing e Comunicação da Livraria Lello, estranhava o facto daquela via continuar fechada, uma vez que o movimento de turistas já tinha estabilizado na semana seguinte à Páscoa.
A rua da Carmelitas foi encerrada ao trânsito pela Câmara Municipal do Porto na manhã do dia 19 de abril na sequência das enormes filas que se formaram para visitar a histórica Livraria Lello, um dos ex-líbris da cidade.
O crescente fluxo turístico ao longo dos últimos anos na Livraria Lello obrigou a uma nova organização da visita ao edifício com a introdução, em 2015, de um voucher descontável em livros que deve ser comprado num edifício perto da Lello.
Esta quinta-feira, a fila para aceder ao interior da loja era ao início da tarde já bastante significativa.
Por Lusa