O jardim centenário que existia nas traseiras do Cinema Trindade, no centro histórico do Porto, foi demolido, estando licenciada para aquele terreno uma unidade hoteleira.
Em resposta à Lusa, a Câmara do Porto confirma que para aquele local “foi licenciada a construção de um edifício destinado a serviços (unidade hoteleira)” e explica que, “tratando-se de um prédio localizado em zona de proteção a conjunto classificado, foi consultada a DRCN – Direção Regional de Cultura do Norte que se pronunciou favoravelmente”.
Para além do jardim, foi ainda demolido o muro histórico de suporte a esse mesmo jardim, situado entre as ruas Dr. Ricardo Jorge e a Praça da Trindade, que segundo o arquiteto José Pedro Tenreiro do Fórum Cidadania Porto já existia pelo menos desde os anos 1920.
Em declarações à Lusa, o arquiteto considera que a demolição deste terreiro é uma “situação grave”, principalmente tendo em conta que era dos poucos espaços verdes privados e públicos existentes naquela zona.
“Esse terreiro, esse muro tinha um jardim em cima, com árvores centenárias, e o edifício do cinema abria para esse jardim com uma grande galeria que era um espaço coletivo do cinema. Portanto, não percebo sequer como é que qualquer projeto que seja levado a cabo aí poderá interagir ou não com o cinema em funções”, disse.
José Pedro Tenreiro considera que este caso em particular constituiu um “atentado contra os espaços naturais” que restam na cidade, numa altura em que se tem assistido ao abate de árvores em várias zonas da cidade “sem qualquer necessidade”.
“Com tantos cortes, começamos a suspeitar qual é a estratégia que existe para a cidade a nível de espaços verdes, isto numa situação em que o Porto está já no patamar limite da quantidade de espaços verdes por habitante decretada pela União europeia”.
Para o arquiteto, esta demolição é ainda preocupante no que toca ao funcionamento da cidade, nomeadamente no respeita à circulação automóvel e densidade da construção.
“Isto é grave, deitar abaixo árvores naquele sítio, densificar ainda mais a construção num local onde já há bastante construção e onde é dificílimo circular de automóvel. Eu não estou a ver onde é que vão parar os autocarros com turistas que vão ficar naquele hotel”, defendeu.
A Lusa tentou obter uma reação por parte da Direção Regional de Cultura do Norte, mas até ao momento sem sucesso.
Por: LUSA