Face aos episódios mais recentes de racismo que marcam o mundo do futebol, ainda há quem
não se sinta indiferente. A importância das evidências, o racismo entre jogadores e claques, e o lado ético desses atos, foram alguns dos temas mais marcantes.
Henrique Calisto e Daniel Seabra juntaram-se na passada quinta-feira, no debate realizado por
Rui Estrada e Teresa Toldy, na Universidade Fernando Pessoa. Começando por situações como
o “Caso Marega” e o “Caso Bernardo Silva”, foi possível conhecer melhor o discurso do racismo
em Portugal.
Partindo da ideia inicial da importância do saber ouvir para a realização de um debate livre, que
tem em conta as evidências e não opiniões pessoais, Henrique Calisto, treinador de futebol,
defendeu que os maiores exemplos de racismo em Portugal não são feitos entre jogadores. “Na
relação treinador-jogadores ou jogadores-jogadores, em 40 anos de experiência, não há racismo.
(…) No mundo do futebol, nomeadamente no que concerne a quem está a ver o futebol, há de
facto o racismo… eu diria até mais um preconceito”
No “Caso Marega” ficou claro que a atitude por parte dos adeptos do Guimarães foi um
acontecimento por “arrasto”, onde muitas vezes os envolvidos nem se identificam com o que
fizeram. O treinador ressalvou ainda que “enquanto encararmos o estádio e o jogo como o
despejar dos nossos maus dias, isso é mau”, completando que este deve ser um ambiente de
convívio e não de ódio.
Tereza Toldy focou-se no lado ético do sucedido. A dificuldade em identificar atos de racismo no
nosso país deve-se ao facto de legislação inexistente referente ao mesmo. O descontentamento
do jogador face aos sons foi evidente e levantou questões, mas a mesma defende que não há “um
reconhecimento de estatuto igual a quem é insultado”. Apesar de pertencemos todos à mesma
humanidade, “quem insulta nunca admite o que fez, pois fica mal”.
O também docente da instituição, Daniel Seabra, com a sua vasta experiência e conhecimento
sobre claques, acrescentou o facto de não estar em causa o clube Vitória de Guimarães nem os
seus restantes adeptos, mas sim o grupo em questão que levou a cabo o ato contra o ex jogador
do clube. Um acontecimento como este “noutra situação passaria despercebido”, o que chamou à
atenção foi o “contorno peculiar da mesma”, que não passou de uma tentativa dos adeptos, de
afetar o desempenho de Marega.
Terminado com o facto de o insulto e o racismo se terem tornado algo vulgar porque “no futebol
vale tudo”, o debate teve a adesão de docentes, alunos e entusiastas do futebol. De uma forma
marcante foi ainda possível conhecer testemunhos de membros do público que directamente
ligados ao futebol ou não, já sofreram racismo.
A equipa de reportagem da Rádio Portuense esteve nas ruas do Porto e Gaia para saber a opinião dos portugueses sobre este tema:
Reportagem Rádio Portuense por: Angélica Pinto / Sandra Seidi / Luís Santos