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“Revolução e Mulheres” | PodLetras com Sara Barros Leitão

No mês em que celebra o seu primeiro aniversário, o Núcleo de Estudantes de Português da Universidade do Porto (NEP-UP) teve o privilégio de conversar com Sara Barros Leitão, artista e ativista portuense: é a partir de um lugar de insónia e inquietação que partimos para uma hora e meia de diálogo sobre a beleza de mudar o mundo e a urgência da arte nessa luta.

Criadora movida pela ânsia de (re)encontrar as raízes dos problemas, das palavras, dos mitos e de dar voz ao “pormenor insignificante” das notas de rodapé́ nos livros de História, Sara fala-nos do desafio de recuperar o passado para apontar caminhos para o futuro. Problematiza-se a arte como um espaço fundamental de questionamento de um cânone androcêntrico homogéneo, bem como de resistência ao utilitarismo, à sociedade capitalista e à maquinização do quotidiano.

Regressando às nossas matrizes histórico-culturais na Grécia Antiga, equaciona-se o que significa hoje ler, traduzir, encenar um clássico e como esse ímpeto de apropriação e reescrita pode constituir a derradeira prova da contínua atuação destas obras em nós, leitores contemporâneos. Não obstante, além da responsabilidade de procurar conhecer realmente os (con)textos de escrita e ampliar bibliotecas além da “história única” ocidental, emerge o valor da liberdade na criação, sob a égide dos conselhos de Rilke “no mais silencioso da noite”.

Para pensar a luta das mulheres por “um quarto que seja seu” no seio das artes e das humanidades, importa, uma vez mais, olhar para a história anónima: fala-se de sororidade e de opressão, fala-se do desejo escondido nos diários, do silenciamento no espaço público e do papel estruturante do trabalho doméstico invisibilizado ao longo de séculos. Afinal, quantas histórias de emancipação – “tantas […] quantas mulheres existem no mundo” – desconhecemos não só́ pela negação do acesso à escrita, mas também pela negação de um espaço-tempo quotidianos que permitam essa expressão criativa?

Criar de um ponto de vista feminista, defende a nossa convidada, é um trabalho diário, que implica a mobilização de aliados e aliadas de outras lutas, como a implementação de políticas laborais mais justas, promotoras da igualdade de géneros. Preocupações estas – a par do combate ao racismo, dos desafios climáticos ou da defesa dos direitos LBGTQ+ – interagem na agenda polifónica das gerações mais novas para quem, continuando e renovando Abril, urge preservar a democracia e ocupar os espaços de intervenção pública.

Assim, se o espetáculo em palco pode ser encarado como “um ensaio da vida”, reivindica-se para os artistas um papel visionário, qual Tirésias, orientando-nos para a definição de estratégias coletivas e individuais que nos permitirão, como cidadãos e cidadãs, agir no mundo. No percurso desta artista e ativista, prevalece um compromisso inadiável com um futuro global mais igualitário: a cada criação, abrir caminho para que a voz de outros, nesse futuro, seja também ouvida.

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