Setenta por cento dos estudantes do Ensino Superior do Porto diz que se vive um “ambiente de incerteza e insegurança sanitária” perante o retomar das aulas presenciais após o confinamento pela Covid-19, conclui um inquérito da Federação Académica.
Num inquérito sobre o regresso ao regime de aulas presenciais realizado pela Federação Académica do Porto (FAP), ao qual a Lusa teve acesso esta sexta-feira, mais de um terço dos estudantes (35%) refere que se vai deparar “com dificuldades em suportar as despesas de deslocação para as instituições em que se encontram inscritos”, porque desistiram de manter as despesas com o alojamento ou por falta de segurança na utilização dos transportes públicos.
O Ensino Superior vai regressar na segunda-feira ao regime de aulas presenciais e, para avaliar como é que estão a reagir os estudantes da academia do Porto – universidade, politécnico e privadas – , a FAP promoveu um inquérito, em que participaram 2.324 estudantes, e onde se conclui que “existe uma grande incerteza neste regresso”.
O inquérito revela que um em cada quatro estudantes desistiu do alojamento na cidade do Porto.
Entre esses que desistiram de ter alojamento, 10% dizem estar à procura de casa para a retoma das aulas presenciais e a grande maioria (70%) considera que os preços estão “mais elevados”.
O estudo revela também que, apesar do segundo semestre já está a decorrer há mais de dois meses, dois em cada 10 estudantes ainda não concluíram todas as avaliações das épocas normal e de recurso do primeiro semestre.
Segundo o inquérito, em termos pedagógicos, 52% dos estudantes admite dúvidas quanto ao decorrer do segundo semestre letivo e aos métodos de avaliação que acabarão por ser utilizados, enquanto 69% dos inquiridos afirma que o seu aproveitamento escolar se “encontra condicionado” pela forma como tem vindo a decorrer o ensino ‘online’.
Sobre os efeitos económicos causados pela pandemia, 39% dos estudantes revela ter perdido rendimentos durante os últimos meses, percentagem que ascende a 45% nos estudantes bolseiros.
Entre os estudantes que perderam rendimentos, 12% dos inquiridos assume dificuldades em continuar a suportar despesas com o Ensino Superior, estando 11% a considerar abandonar os estudos.
Sete por cento dos estudantes que ponderam abandonar os estudos não são bolseiros de ação social.
No setor da saúde mental, durante a pandemia, aproximadamente 23% dos estudantes admite já ter recorrido a apoio psicológico devido ao aumento do estado de ansiedade, stress ou angústia.
“Com a retoma gradual do ensino presencial e mais uma transição na vida dos estudantes, 58% revelaram que houve agora um aumento dessas sensações.
Questionados ainda sobre as respostas existentes na área, um em cada três estudantes referiu que o acesso ao apoio psicológico é “dispendioso”.
Em declarações à Lusa, a presidente da FAP, Ana Gabriela Cabilhas, reconhece a importância da retoma do regime presencial no Ensino Superior, para que os estudantes possam ter experiências práticas e ou laboratoriais, mas diz estar preocupada com os alunos deslocados e com dificuldades económicas.
“Não deixa de ser uma preocupação nossa que os estudantes deslocados ou de maior vulnerabilidade socioeconómica enfrentem mais entraves com este regresso, agravando-se ainda mais as desigualdades”, refere.
A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.987.891 mortos no mundo, resultantes de mais de 139 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Fonte: Lusa