Tensão entre a Rússia e a Ucrânia: o que pode implicar para Portugal?
Como pode este confronto afetar o quotidiano dos portugueses?
Rui Fernando Santos, Investigador do Instituto Português de Relações Internacionais destaca que a Rússia e a Ucrânia já se encontram em conflito desde 2014 e que este avanço recente já estava pré-definido.
Bernardo Pires de Lima, Conselheiro Político do presidente da República Portuguesa, acredita ainda estar tudo “em cima da mesa”. O especialista de política internacional analisa que esta troca de ações vai desencadear um “jogo de forças militares” entre os dois países. É neste jogo de “colocar todo o mundo em estado de transe, em que todos ficamos na expectativa sobre o que é que quer e o que vai fazer”.
Sendo assim, qual é o impacto que estas ações têm para Portugal? Na verdade, “devemos ter alguma preocupação”, apesar de Portugal não sofrer diretamente com o confronto. “Qualquer conflito afeta os países e os sistemas financeiros. Qualquer ação no terreno rende a agravar os sintomas da economia que já vinham a ser agravados, antes desta situação, o que acarreta é mais custos”.
Assim, são vários os aspetos a que Portugal pode vir a ser exposto. “Além da ajuda que vamos dar à NATO, do ponto de vista económico ainda nos apercebemos bem do impacto que isto vai ter, em Portugal e na Europa. Portugal tem uma economia suportada no turismo, e o espaço aéreo pode ter algum tipo de condicionamento durante o confronto”, analisa Rui Santos. “Somos também dependentes não do gás russo, mas da inflação que vai acontecer. O mercado mundial vai aumentar em tudo: matéria-prima, logística, etc. Se os salários não aumentam, mas o custo de vida sim, então Portugal vai ficar prejudicado”.
Mas será que poderemos ser atacados? Os especialistas garantem que estamos numa guerra híbrida: utilizando a tecnologia, desinformação, Internet. “Este processo tem sido acompanhado de passos pequenos e por isso acho que o que está a acontecer não vai ser uma grande guerra de potências. Mas hoje os meios são muito amplos, com guerras cibernéticas. Vale relembrar que estes ataques informáticos têm uma cadência que expõe as nossas vulnerabilidades. Os países como a Rússia usam e abusam desses mecanismos que não são usados nas guerras clássicas”, explica o conselheiro.
A Rússia não só não tem possibilidades, como não pretende atacar nenhum país pertencente à NATO, mas um ciberataque é barato, podendo ser feito por especialistas militares, acabando por ser difícil de identificar o país de onde veio, podendo vir a causar uma grande destabilização na vida. O objetivo é o passar da sensação de ameaça constante. Pretende-se intensificar essa pressão na Europa, que não têm maneira de se proteger, podendo vir a sofrer no dia-a-dia.
Enquanto cidadãos “não podemos fazer nada”, mas o investigador garante que é importante ter a noção do estado da Rússia. “O país tem o mesmo PIB nacional que a Itália e o PIB per capita é igual ao da Malásia. A Rússia depende do investimento europeu e cada vez mais se vê que o que aqui importa é o prestígio e reconhecimento internacional”.