Na Rubrica “EX-TRA-BRIO”, a Rádio Comunitária de Aldoar pretende identificar membros da comunidade que, sendo beneficiários de Rendimento Social de Inserção (RSI), têm uma experiência de trabalho e um percurso de vida que os notabiliza no Bairro onde vivem. Neusa Rocha e Renato Florim conversaram com Alexandre Macieira, “o homem dos 7 ofícios”:
“Eu tinha de me desenrascar, tinha de procurar trabalho, tinha de me desenrascar em qualquer lado. A maioria dos habitantes de Aldoar estão todos no estrangeiro, rapazes da minha geração, a maioria está tudo lá”.
“Trabalhei como servente, andei na biscatada, depois vi que não dava e arranjei uma firma para tentar fazer descontos e ganhar mais algum”.
Fez também tecelagem para elaborar sacos de linhagem para batatas e cebolas, utensílios de cozinha, sempre com o objectivo de ajudar os pais em casa. “Criei boas amizades e gostava daquilo que fazia, um bocado de sacrifício mas a coisa cumpria-se”. “Nas fábricas fui ganhar pouco, mas dava para ajudar”.
A camaradagem e os laços que estabeleceu em período pós-laboral também foram revividos com imensa saudade:
“Havia uns convívios, o pessoal ia para a farra beber umas bejecas”.
Relatou que foi para Espanha trabalhar num parque de diversões, semelhante às festas do Senhor de Matosinhos, antes de contar a experiência nas vindimas e as viagens de comboio.
“Aquilo parece que foi feito para mim, as vindimas eram do meu tamanho, não tinha de me baixar, era só pegar na tesoura da poda, «pumba, pumba, pumba», era maravilha. Mais difícil era pegar no cesto e levar aquilo ao ombro”.
As “partidas” entre colegas de profissão eram formas de aproximação e amizade. Algumas, as mais marcantes, foram contadas com alegria:
“Íamos na carrinha e matamos uma «ganda» cobra, mas uma senhora «ganda» cobra. E o que é que se fez, pendurou-se no vidro da janela da carrinha”. Numa outra ocasião “pegaram numa cobra pequena e meteram-me na sapatilha, peguei nas sapatilhas e mandei para o quintal… fiquei zangado”.
Agora está mais por casa, mas recorda com carinho os tempos do bailarico ao Domingo.
Com o avançar dos anos as «portas começaram a fechar-se» e o RSI tornou-se uma realidade: “Antigamente ganhava-se pouco e vivia-se talvez melhor. Hoje ganha-se mais, mas também se gasta, vive-se para comer… e mal às vezes. Os anos começaram a passar, a dificuldade do trabalho. Na minha altura, de jovem, havia trabalho com fartura. Eu fazia pela vida, fazia horas extra, ganhava prémios de produção, fazia a mais. Eu agarrava-me às horas extra, aos prémios. Podia ser meio malandro mas quando me dava para agarrar eu também trabalhava”.
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A Rádio Comunitária de Aldoar é um projecto da Associação de Ludotecas do Porto em parceria com a Rádio Portuense