Leonor Medon, 21 anos, estudante de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e uma das vencedoras do Torneio de Debates Pan-Europeu em Bruxelas sobre Alterações Climáticas, Migração, Juventude e Economia, participou numa visita ao Quénia para observar e documentar a realidade do país. Um território que tem enfrentado nos últimos anos conflitos e deslocações forçadas devido à falta de água e à insegurança alimentar. O tour realizou-se de 5 a 13 de abril e foi promovido pelas organizações WeWorld e Terra Madre, no âmbito da campanha #ClimateOfChange, com os jovens finalistas do Torneio de Debates Pan-Europeu e jovens ativistas como a portuguesa Joana Guerra Tadeu.
ClimateOfChange é a campanha de sensibilização pan-europeia liderada pela ONG italiana WeWorld e cofinanciada pela Comissão Europeia, no âmbito do Programa DEAR. Um programa que visa desenvolver a consciência dos jovens cidadãos da UE sobre a ligação entre as alterações climáticas e a migração e envolvê-los na criação de um movimento ativo para mudar o seu estilo de vida e apoiar a justiça climática global.
Como embaixadora do Clima, Leonor Medon, irá ampliar a voz dos quenianos e as preocupações de quem está a sofrer com os impactos das alterações climáticas. A ideia é sensibilizar em particular os jovens para serem agentes de mudança perante uma ameaça global cada vez mais local e garantir a justiça climática para todos. “A ação dos jovens surge como um motor para a promoção tanto dos problemas como das soluções e linhas orientadoras para uma transição ecológica e climática”, afirma Leonor.
De facto, foi possível visitar inúmeras iniciativas de adaptação e mitigação face às alterações climáticas, tais como projetos familiares de economia circular em Baringo, e trocar ideias com jovens ativistas quenianos. “Não raras vezes, ao estudar e ler sobre as alterações climáticas e os seus impactos sociais, ao fazê-lo em nossa casa, longe do terreno onde os efeitos mais se sentem, pensamos na forma como o problema se traduz em números, estatísticas e demais dados quantitativos. (…) A título de exemplo, é diferente analisar estatísticas sobre a seca extrema e ouvir as populações sobre como isso provocou a redução de três para apenas uma refeição por dia em algumas comunidades, incluindo entre mulheres e crianças (…) ou como a subida dos níveis da água, por exemplo no Lago Baringo, provocou migrações de um conjunto alargado de pessoas que vivia próxima da água.” afirma Leonor.
“Todas estas experiências levaram-me para a necessidade da ação climática, mas, em todo o caso, cada vez mais entendo a sua ligação a tantas outras matérias como, no caso desta viagem, são o colonialismo, as comunidades, o território e a complexidade de contextos históricos e sociais que se misturam em todas estas matérias. Procurarei associar, tanto quanto me for possível, tudo o que testemunhei na minha prática académica e para o ativismo sobre as questões do clima.”, acrescenta ainda.
A atividade pastorícia – até hoje a maior fonte de subsistência de milhões de pessoas residentes nas terras áridas e semiáridas que ocupam já 85% do território do Quénia -, está ameaçada devido à variabilidade climática e a secas prolongadas. As alterações climáticas vieram, por um lado, agravar a pressão sobre a biodiversidade e a segurança alimentar da população no país. Por outro, estão a agudizar os conflitos entre as comunidades locais motivados pela falta de recursos, na disputa por água e alimentos, o que leva a um agravamento ainda maior no que respeita aos meios de subsistência disponíveis. Uma realidade com repercussões na estabilidade dos mercados e da educação das crianças e que está a conduzir a deslocações forçadas.
“Por exemplo, disseram-me ser a “Rainy Season” (Época de Chuvas) a época em que visitei o Quénia. Contudo, nos dez dias em que estive não choveu uma única vez. Durante vários anos, algumas das florestas que visitamos foram alvo de expropriação e de produção massiva de árvores exóticas como os eucaliptos. Verificamos que as comunidades têm desenvolvido esforços para plantar espécies indígenas, no sentido de promover a reflorestação. Além disso, surgem novas formas de cultura de animais para fugir a alguns problemas de criminalidade (…), que procuram gerar uma economia circular onde tudo é aproveitado.”
O Quénia tem vindo a desenvolver inúmeros instrumentos, como o Plano de Ação Nacional de para as Alterações Climáticas, mas dependente em muito do apoio da comunidade internacional.