Em pleno centro do Porto, as crianças já não enchem as escolas
Neste área, o esvaziamento populacional faz recuar ao início dos ano 80, uma altura em que muitas famílias migraram para as periferias. Contudo, era um processo lento e gradual, contrariamente aos dias de hoje. Isto explica-se pelo boom turístico e económico dos últimos anos. Neste sentido, são cada vez menos moradores no centro da cidade e, por consequência, menos crianças. Assim sendo, as escolas básicas lutam, anualmente, para resistirem.
Vânia Santos, professora, recorda que, em 2006, as crianças eram tantas que “Tinha de pedir à colega para se despachar, porque estava na hora de entrar com os meus miúdos”. Isto passava-se na Escola Básica de São Nicolau, no coração do Porto. Neste tempo, as turmas de primeiro ciclo tinham “mais de 18 alunos” e havia, ainda, “duas salas de pré-primária com 24 alunos cada”. Conta ainda que “Diziam que os senhorios queriam fazer restauros e que se calhar iam ter de mudar”.
O início do seu percurso na escola coincidiu com os primeiros anos da estratégia de reabilitação urbana do centro histórico, implementada durante o segundo mandato de Rui Rio na Câmara Municipal do Porto (CMP). A criação da Porto Vivo, Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU), em 2004, acionou várias transformações físicas, sociais e económicas alinhadas com os interesses e necessidades de “novos residentes, investidores e empresários, consumidores de índole diversa, turistas”, como especifica o sociólogo João Queirós num artigo publicado em 2016 na Revista de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP).
O declínio da população escolar evidenciou-se com o encerramento de creches e Atividades de Tempos Livres (ATL) que anteriormente funcionavam nas escolas em causa. Dolores Osório, membro do movimento cívico Em Defesa dos ATL e Creches da UF Centro Histórico do Porto, conta que a supressão da oferta socioeducativas por parte da junta de freguesia “começou no final do ano letivo 2013/2014” e que “todos os anos tínhamos uma ameaça de encerramento”. A Segurança Social deixou de apoiar as juntas com verbas para as creches e, em 2015/2016, António Fonseca, presidente da UF do Centro Histórico desde 2013, “decide que a pré tem de encerrar, porque a junta não tem legitimidade para a manter”.
Para os investigadores, o futuro do centro histórico do Porto passa pela regulação e gestão equilibrada do turismo, criando-se “oportunidades económicas, habitacionais e culturais que não sejam só turísticas” e políticas habitacionais que promovam a diversidade. As pistas para este trabalho poderão estar nos censos de 2021, que ajudarão a compreender a evolução populacional da última década e a saber o que esperar da próxima.
FONTE: Público