O bar e sala de concertos Cave 45, no Porto, vai fechar as portas depois da passagem de ano
O encerramento, já anunciado desde outubro, gerou “muita especulação em relação às causas, algumas delas erradas”, disse à Lusa Óscar Pinho, principalmente devido a uma petição ‘online’, que procurava reverter a decisão e reúne atualmente cerca de 1.500 assinaturas, que apontava a reconversão do prédio numa unidade hoteleira como a razão do fecho.
“O fecho não se deve diretamente à questão imobiliária. Segundo a petição, o Cave 45 iria ser transformado num hostel e isso não é verdade”, referiu, até porque a “razão principal” é financeira, campo onde as coisas “não estavam a correr muito bem”.
Apesar de “nunca ter gerado dívidas”, os sócios “estiveram bastante tempo sem receber, não estava a compensar o esforço”, apesar de “ironicamente, depois de saber que ia fechar, ter passado a correr bastante bem”.
“Este período tem corrido muitíssimo bem, as pessoas parece que adoram funerais. A partir do momento em que anunciámos que íamos fechar, as coisas têm corrido muito bem”, comentou Óscar Pinho, que, com Iolanda Pereira e Paulo ‘Rodas’ Pereira, abriu o Cave 45.
A programação ligada ao rock, punk e metal, aliada a uma “localização excelente”, fez com que o espaço se afirmasse desde a abertura, em dezembro de 2014, e esses géneros musicais serão agora “uma lacuna” na cidade.
“É verdade que nós preenchemos uma lacuna que existia no Porto e com o nosso fecho essa lacuna vai voltar a existir, mas espero que abram outros sítios”, resumiu.
Óscar Pinho explica que o próprio espaço lhes apresentou “algumas limitações”, principalmente com a sala de baixo, “que sempre foi vista como mera sala de concertos e nunca rentabilizada depois deles”, e com uma parte superior pequena.
“Muitas pessoas dizem que vão ter saudades do Cave 45, e eu acho que é verdade. Se estivesse do outro lado, também teria. É um espaço com condições razoáveis em termos de concerto, nem muito grande nem muito pequeno, e vieram cá coisas que vão na memória das pessoas. Ficaram na minha”, refletiu o também músico, que lembrou bandas para as quais o espaço podia ser “demasiado pequeno, mas que vieram cá”.
A gerência, que não foi contactada para transpor o conceito do espaço para outro sítio ou para ser apoiada, nunca recorreu a patrocínios ou apoios, para manter a liberdade do espaço, e está entre os elogios recebidos por quem passou pela Cave 45, a par do “atendimento, que sempre foi elogiado”.
“Desde os bares à porta, as pessoas que aqui trabalhavam foram sempre simpáticas. Apesar de tudo, foi um espaço onde se criaram amizades e onde se conheceu muita gente”, acrescentou.
Para o último mês da vida do espaço, “não houve propriamente um cuidado especial”. “As coisas foram acontecendo. Algumas bandas nunca cá tinham tocado, como os Black Bombaim ou Juseph, e que já tinham querido cá tocar ou tínhamos convidado várias vezes, apressaram-se a fazê-lo”, apontou.
A despedida terá, na quinta-feira, a noite “Rock and Roll Circus”, ciclo “periódico” do espaço, com o regresso dos Cães Vadios, banda de punk portuense que vai atuar pela primeira vez em 22 anos e inclui Óscar Pinho no papel de baixista
Na noite de domingo para segunda-feira, de passagem de ano, a programação da última noite do Cave 45 incide num “concerto especial” dos amigos Hellcharge, dos lisboetas Roädscüm e dos espanhóis Black Panda, banda da Corunha que já passou pela casa portuense.
Dada a natureza especial da noite, o bar optou por “começar [os concertos] mais tarde, com um bilhete mais barato, para quem quiser celebrar a passagem de ano e beber um último copo”.
Cães Vadios reunida em concerto 22 anos depois
O concerto da banda de punk portuense está integrado no ciclo “Rock and Roll Circus”, uma “programação periódica” do Cave 45, explicou à Lusa Óscar Pinho,
“Este concerto partiu do desafio de um amigo, que foi aceite. Mas é uma coisa efémera, não temos pretensões de voltar. Vai ser um concerto bastante curto, onde vamos tocar quatro temas”, apontou o baixista do grupo.
No Cave 45, numa noite que contará ainda com Thee Magnets, o grupo vai atuar com Óscar Pinho, no baixo, Guilherme Lucas, guitarrista e único elemento que esteve na banda desde o princípio, Carlos Moura, que também integra os Thee Magnets, na bateria, e David Pontes, na voz.
Os Cães Vadios fizeram “meia dúzia de ensaios”, para que pudessem estar em palco “com alguma qualidade, para não estragar a imagem da banda”, e até “tocar melhor, com mais experiência”.
“Já não tocávamos juntos há 22 anos. A maioria não deixou de tocar, só o David é que deixou de fazer música. Pegámos no reportório desta formação, até porque a banda teve demasiadas fases, e tentámos fazer um ‘setlist’ minimamente homogéneo”, acrescentou Óscar Pinho.
Apesar de estarem a contar com pedidos para mais concertos, Óscar explica que “as pessoas mudam e têm a sua vida”, razão pela qual o grupo não pode “voltar a ser uma banda com atividade normal”.
De fora do reportório para quinta-feira ficaram canções que “não dizem nada à banda”, até porque “as pessoas estão diferentes”, com a escolha de quatro temas, um deles “bastante longo”, numa atuação prevista de cerca de 20 minutos.
De fora dos planos, além de mais concertos, está a criação de novo material ou a gravação de música em estúdio.
“Não temos pretensões de gravar nada nem de fazer outros concertos, o que não quer dizer que não possa acontecer. Não está nos planos”, comentou.
Formado em 1985, no Porto, o grupo editou apenas um ‘single’ em nome próprio, em 1987, com as faixas “Cães Vadios”, “Bêbado” e “Marcianos”, pela editora Ama Romanta, além de ter contribuído para várias coletâneas até 1995, altura em que dá o último concerto.
Ao longo dos anos, a banda foi tendo várias mudanças nos elementos, criando pelo caminho temas como “Bem Fundo”, “Mental City” ou “Sou Único”.
Em palco, os Cães Vadios fizeram a primeira parte de três concertos dos suíços Young Gods, em 1992, em Lisboa, Porto e Coimbra, além de abrirem por diversas vezes para os portugueses Mão Morta, entre várias outras atuações durante os dez anos de atividade.