A Capela dos Três Reis Magos
O templo, junto do qual se fazia a festa aos três Reis Magos, já não existe.
Ficava anexo a um elegante palacete, construído cerca de 1717, na parte norte da atual praça da Liberdade, por iniciativa do “ilustre fidalgo” José Monteiro Moreira, marido de D. Josefa Joana Salazar.
Havia muito tempo que o edifício já não servia como residência familiar. Por 1752, por exemplo, ocupou as suas dependências e ali funcionou durante alguns anos o tribunal da Relação. As obras para a construção do edifício da Cordoaria, onde viria a ser instalada a Relação e a cadeia, hoje sede do Centro Nacional de Fotografia, só tiveram inicio em 1765.
Em 1816, a Câmara do Porto, que por esse tempo não possuía sede própria, comprou o palacete da praça Nova por 31. 265$960 reis à Real Companhia das Vinhas do Alto Douro, então proprietária do edifício.
Fez obras de adaptação e instalou-se na sua nova sede três anos depois, em 21 de agosto de 1819. Relativamente à capela a Câmara manteve todas as prerrogativas anteriores: a manutenção do culto com a porta aberta de modo a que quem o desejasse pudesse participar, especialmente, nas missas.
Este tipo de templos particulares, muito vulgarizados na cidade do Porto, careciam de um beneplácito régio e de uma autorização especial da Cúria Romana para que nele se pudessem realizar atos litúrgicos. Esses privilégios, digamos assim, dados à capela dos Três reis Magos, datam de julho de 1738 e de agosto de 1739, respetivamente.
Por 1916 o velho palacete aristocrático tornara-se exíguo para as exigências dos serviços camarários e, enquanto não construía sede própria, os atuais Paços do Concelho, inaugurados em 1952, a Câmara mudou-se para o paço episcopal, junto à Sé onde se manteve por mais de trinta anos.
Entretanto a edilidade aprovou o arrojado projeto da construção da moderna avenida dos Aliados e o antigo palacete teve que ser demolido e com ele a capela a mítica capela dos Três Reis Magos. Por alturas da demolição, um rico proprietário da Pocariça, no concelho de Cantanhede, Manuel Evaristo Pessoa, comprou por 400$00 (quatrocentos escudos) toda a pedra da capela; gastou mais 800$00 com o transporte da mesma para a sua terra e reedificou lá o antigo templo, mas agora com a denominação de capela de S. Tomé.
A seguir ao desaparecimento da capela, também se esfumou a festa que se fazia em honra dos Três Magos, cuja tradição enraizava no século XV, época em que uma comissão de moradores da Cruz do Souto pede à Câmara autorização para montar um palanque sobre o qual se havia de fazer uma pantomina em louvor dos Três reis Magos. Tudo passa.
Este é um artigo da autoria de Germano Silva, publicado na VISÃO