As portagens da ponte Luís I… para peões
A ponte Luiz I já foi uma ponte com portagem (cinco reis por pessoa) instituída, um dia depois da inauguração do tabuleiro superior, a 1 de Novembro de 1886 e que só deixariam de ser cobradas a 1 de Janeiro de 1944, ou seja, quase 58 anos depois.
Por volta da segunda metade do séc. XIX, o comércio progredia na cidade do Porto. As fábricas alastravam por todo o bairro oriental da cidade, o então chamado “Bairro Brasileiro”, denominação esta por proliferarem habitações de antigos emigrantes ricos vindos do Brasil.
O tráfego para Gaia e Lisboa crescia de dia para dia e a bela “Ponte Pênsil” já não chegava para uma circulação eficaz. Por proposta de lei de 11 de fevereiro de 1879, o Governo determinou por ordem de António Maria de Fontes Pereira de Mello, a abertura de um concurso para a construção de uma nova ponte sobre o rio Douro, para substituição da ponte pênsil D. Maria II.
Apresentam-se numerosos projectos e propostas de diversos construtores e engenheiros, incluindo o de Gustave Eiffel. Venceu a proposta de uma empresa da Bélgica, a Société Anonyme de Construction e des Ateliers de Willebroeck, no valor de 369,000$000 réis, sendo a obra adjudicada a esta empresa belga, de Bruxelas, pela quantia de 402 contos de réis, com um projecto do engenheiro belga François Gustave Théophile Seyring (1843 – 1923), que anteriormente tinha já colaborado como autor da concepção e chefe da equipa do projecto da ponte ferroviária Maria Pia.
Théophile Seyring enquanto sócio de Gustave Eiffel, assina como único responsável a grandiosa e nova ponte, designada Luiz I. Esta nova ponte a localizar-se sobre o rio Douro, entre o morro granítico onde se ergue a Sé Catedral do Porto e a encosta fronteira da Serra do Pilar em Vila Nova de Gaia. Os trabalhos de construção são iniciados no ano de 1881, trata-se de uma ponte com estrutura metálica em ferro forjado, com dois tabuleiros, o superior com cerca de 400 metros de comprimento, suportado por um conjunto de sete pilares e um arco inferior com 172 metros de corda e 45 metros de flecha.
Existem cinco pilares metálicos em treliça e dois em alvenaria, o arco, suspende o tabuleiro inferior.
A inauguração, apenas do tabuleiro superior, acontece em 31 de outubro de 1886, dia do aniversário do rei D. Luiz I, e a 1 de novembro do mesmo ano, entraria em vigor o sistema de portagens a favor da empresa adjudicatária, sendo o preço de 5 réis para a passagem de peões.
Chegou ainda a utilizar-se, como forma de pagamento, um sistema de fichas (moedas) para o efeito, que eram também aceites como moeda em alguns estabelecimentos comerciais.
Só mais tarde em 1888, o tabuleiro inferior é inaugurado, entrando assim em total funcionamento. Esta nova ponte de estrutura metálica, é uma verdadeira filigrana de ferro, que passou a ser com a Torre dos Clérigos, o ex – líbris da cidade do Porto, pesava no seu conjunto 3,045 toneladas. A ponte era iluminada por meio de artísticos candeeiros a gás, 24 no tabuleiro superior e 8 no inferior e ainda 8 nos encontros.
Devido à ausência do rei D. Luiz I na sua inauguração, a população do Porto decidiu em resposta ao acto de aparente desrespeito, retirar o “Dom” do respectivo nome, ora não parece corresponder à realidade, sendo assim uma lenda.
A atestar tal facto, refira-se que nas notícias dos jornais durante o período da sua construção a ponte ser designada por “Ponte Luiz I“, assim como outras importantes construções da época tiveram nomes de membros da família real. Acrescente-se ainda que apesar do nome oficial da ponte ser “Luiz I”, conforme atestam as inscrições nas placas sobre as entradas do tabuleiro inferior, a população do Porto sempre lhe chamou “Ponte D. Luiz”, salvaguardando o título do rei com quem a cidade tinha grande proximidade.