Podletras, ep. 2 – Da Teoria da Literatura, por Celina Silva
Gravou-se, no passado dia 20 de julho, o segundo episódio do podcast mais recentemente criado, o PodLetras.
Tivemos o enorme gosto de estar à conversa com Celina Silva, professora Associada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, docente de Teoria da Literatura. Entre as temáticas abordadas, referiu-se o futuro da disciplina e sua utilidade, a relação entre a literatura e a ética, questões várias relativamente às vicissitudes dos ensinos Superior, Básico e Secundário.
Celina Silva expõe, ao longo de cerca de uma hora de áudio, comentários sobre as diversas formas de se ler um texto literário, a evolução do ensino nos últimos quarenta anos e as mudanças de paradigma que tomaram conta dos estudos literários.
Acerca da importância da disciplina que leciona, comenta: ‘A utilidade de qualquer realidade depende exatamente do nosso conhecimento dela.’ e ainda ‘(…) Mas a Teoria da Literatura tem a ver com tudo porque a literatura representa a realidade e, portanto, tem a ver com tudo.’ Relativamente à forma de se encarar os conteúdos da disciplina comenta ainda ‘O Estruturalismo vai justamente isolar os objetos do seu contexto (…) para quê para chamar a atenção para, o que vou chamar de uma forma muito genérica, a lógica interna do processo, a estrutura, (…) os elementos constitutivos do objeto e a sua combinatória (…). Isto vai implicar (…) uma lógica de relação por oposição. E isso não foi entendido muitas vezes e continua a não ser entendido (…). Muitas vezes se continua a adotar a lógica positivista de origem aristotélica (…) e isto, do ponto de vista científico, é uma aberração’.
Relativamente ao futuro da Teoria da Literatura, a convidada comenta que a disciplina se encontra valorizada e forte, do ponto de vista metodológico, em Espanha, na Itália, na Rússia.
Confrontada com a problemática da relação ética-literatura, Celina Silva opina ainda que ‘Acho [que é possível apreciar do ponto de vista estético um autor com uma visão de mundo perigosa] porque ele vai ser estudado como artista e não como cidadão, são duas coisas completamente diferentes (…). Aquilo a que chamamos artista não é necessariamente a pessoa civil. (…) Mas nós queremos ver na nossa natureza só um lado e temos mais que um, isso é importante para nós tomarmos consciência.
Agora, obviamente, há sempre a questão da responsabilidade e do sistema de valores que cada um adota.’