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Dramaturgo Carlos Costa retrata “distopia do Porto” em nova obra

As palavras são do próprio autor que, em entrevista à agência Lusa, afirmou hoje que a obra coloca em ação toda a cidade, até mesmo “as várias cidades que existem dentro do Porto”.

“É uma distopia do Porto”, referiu Carlos Costa, acrescentando que entre os protagonistas estão um presidente da Câmara Municipal, uma vereadora da Cultura, um presidente de uma empresa municipal, o presidente de uma Sociedade Anónima Desportiva (SAD) da cidade e muitas pessoas ligadas à Universidade local.

“Todos estes interesses se cruzam e as decisões são tomadas em função dos afetos e histórias que as pessoas têm umas com as outras. Apesar de este romance ter uma carga iminentemente política, também se centra na vida, intimidade, desejos e sonhos de cada um e como tudo isso influência as decisões tomadas relativamente ao espaço público”, afirmou.

Em ‘Skyline’, Carlos Costa conta a história de uma autarquia empenhada na mudança da Ponte D. Maria Pia para junto da Praça da República, obra que se julga que vai “transformar o Porto no centro do mundo em termos económicos”.

“A força que a cidade coloca para conseguir levar a cabo essa obra vai deixar à vista todas as fraturas que dividem as pessoas dentro da cidade”, afirmou o diretor artístico do Visões Úteis.

A par da Câmara Municipal, nesta “distopia do Porto” prefigura-se também “uma relação do Futebol Clube do Porto dominado pelo capital chinês, e outro clube, que resulta de uma secreção do clube original em busca do associativismo perdido”.

“É como se toda a cidade em termos económicos, sociais, artísticos, associativistas e políticos se estivesse a fragmentar”, realçou o dramaturgo, acrescentando que num contexto em que o poder local assume o monopólio de toda a produção cultural, discurso e pensamento artístico surge “um movimento de resistência”.

“Há um movimento de resistência política aos poderes instituídos na cidade e à maneira como eles se articulam uns com os outros, não só em termos institucionais, mas também dos afetos que unem as pessoas decisoras. É um movimento que de certa forma se vai radicalizar para resistir a esta ideia de cidade”, salientou Carlos Costa.

Apontada muitas vezes para identificar uma cidade, ‘Skyline’ retrata a ideia de usar uma cidade para tentar transformar algo, partindo do princípio de que “cada um enquanto cidadão tem de se posicionar”: “colaborando, resistindo ou lutando”.

Ainda que esta seja uma obra totalmente de ficção, Carlos Costa explicou que a mesma é “construída em cima de uma crítica e de um pensamento ativo acerca do que somos enquanto cidade, do que queremos ou não ser”.

“Apesar de o Porto ser o território a utilizar como ponto de partida, esta reflexão é aplicável a qualquer cidade ou contexto em que estamos. Temos de tomar uma decisão sobre aquilo que queremos ser enquanto cidade, ou seja, o que queremos partilhar, vender ou ser”, disse.

Depois de dois anos de pesquisa e escrita, a obra de ficção vai ser lançada em 08 de maio, pelas 17h00, no Mira Fórum, no Porto, e conta com a apresentação de Miguel Guedes e a atuação do cantautor Válter Lobo.

Depois de ‘Cratera’ (lançado em 2018), ‘Skyline’ é o segundo romance de Carlos Costa, dramaturgo, encenador e ator nascido no Porto em 1969.

Redação: Lusa

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