“Pedi desculpa ao pai”, revela dono do cão que atacou criança

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Márcio Lourenço, de 24 anos, o jovem que passeava “Black”, rottweiler que atacou gravemente Inês Filipa Fernandes, de quatro anos, na terça-feira, num jardim do Padrão da Légua (Matosinhos), assume culpas, que divide com Paulo Fernandes, o pai da criança atacada, a quem esta quarta-feira, no tribunal, pediu desculpa.

 

“Ele estava com a filha e começou a fotografar-me e a gritar por o cão estar solto”, referiu Márcio, ao JN. Garante que chamou o rottweiler e que intimou o pai da menina a apagar as fotos. Ele terá recusado e chegaram a envolver-se fisicamente. “A situação pôs o cão excitado. Prendi-o, mas quando a menina começou aos gritos, ele ficou agressivo e não consegui segurá-lo”.

O jovem foi ontem ouvido pelo procurador do Tribunal de Matosinhos, que lhe confirmou a constituição de arguido, sujeito a termo de identidade e residência (TIR) por suspeita de um crime de ofensas à integridade física por negligência – o animal deveria ter açaime e trela curta – e outro por, alegadamente, ter agredido o pai da criança, o que refuta.

Cão tinha roído o açaime

Antes da sua inquirição pelo MP, Márcio Lourenço aceitou falar com o JN. “Passei toda a noite sem dormir, angustiado pelo estado de saúde da menina”, disse, assumindo sentir-se culpado por “desleixo”. “Já me acusam de nazi, criminoso, de assassino e de bandido e eu não fiz nada para merecer isso”, exclama.

“O Black tinha roído o açaime quatro dias antes. Eu deveria ter ido imediatamente comprar outro e facilitei”, lamenta.

Depois do ataque do rottweiller, diz que não fugiu do local, mas que a sua “primeira reação foi tirar o cão” dali, porque “a situação tornou-se de repente dramática, com muita gente a gritar e a correr de um lado para outro”, aumentando a agressividade do animal.

“O importante era tirar de lá o cão, para que pudessem prestar socorro à menina”, explica Márcio, que depois quis saber do estado de Inês e garante que só não foi ao hospital saber dela e, “ali, pedir desculpa aos pais” porque “os polícias disseram para não ir, pois podiam reagir mal e pensar que era uma provocação”.

O jovem explica que “a tragédia começou” quando, durante “o habitual passeio com o cão”, Paulo Fernandes, com a filha ao lado, “começou a fotografar e a dizer que não tinha nada que ter o cão solto”. Márcio diz que não gostou e lhe disse “para apagar as fotos”. “Ele recusou e começámos a discutir”. Diz que a situação “excitou o cão” e que, percebendo isso, o segurou. “Nessa altura, a menina começou a gritar e a correr. O cão ficou mais agressivo, soltou-se e atacou-a”.

Márcio diz ainda que correu para “libertar a cabecinha da menina” e jura que “quem abriu as mandíbulas do animal” foi ele. “Até tenho as marcas dos dentes”, diz, mostrando os dedos feridos. Agora, não esconde o receio que ordenem o abate do cão – “Ele, tal como a menina, também não tem culpa nenhuma”, diz. “O mais importante é que a menina fique curada”, conclui.

Inês internada no S. João

No tribunal, e contrariando o seu advogado, que temia “uma reação intempestiva, mas compreensível”, Márcio abordou o pai da menina. “Fui pedir desculpa ao pai da Inês”, confessou. Paulo Fernandes não o repudiou e, sem conseguir suster as lágrimas, foi em pranto que lhe contou o estado de saúde da sua filha.

Inês não corre perigo de vida. Os ferimentos, gravíssimos, foram na cabeça. Sujeita a cirurgia reconstrutiva, os médicos do Hospital de S. João, no Porto, terão conseguido refazer grande parte do couro cabeludo, encontrando dificuldades em reconstruir “apenas alguns centímetros”, na zona da nuca, contou o pai ao JN. Paulo Fernandes disse também que os médicos estão a considerar “operar o braço esquerdo” da sua mulher, que terá sido mordido “quase até ao osso”.

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