Histórico Sp. Cruz terá casa nova em breve, encerrando uma era de terra batida na Cidade Invicta
A Câmara Municipal do Porto adquiriu o terreno onde se encontra o velhinho Campo do Outeiro, alugado ao clube de Paranhos, e avançou para a construção de um moderno complexo, com campo de jogos em piso sintético, bancada com 510 lugares e um edifício de apoio, num investimento de cerca de três milhões de euros.
“Somos dos únicos clubes onde os miúdos não pagam para jogar“
O Sp. Cruz será o principal beneficiado com a mudança, embora o espaço contemple os outros clubes, tratando-se de um equipamento municipal. De qualquer forma, o emblema portuense continuará a apostar numa formação livre, abrindo as portas para crianças dos bairros sociais da zona.
«Atualmente, conseguimos ter cerca de 100 jovens inscritos porque somos dos únicos clubes onde os miúdos não pagam para jogar. Pretendemos manter esta política e, entre dar uma sande e um sumo aos miúdos ou reforço a aposta em competições seniores, vou sempre pelos miúdos. Mas queremos que os nossos atletas não sejam filhos de um Deus menor», salienta o presidente do clube.
2022 será o ano de mudança para o Sp. Cruz, mais de um século após a fundação do clube, em 1919: “Esta mudança é um sinal de esperança para que o clube tenha mais um século de vida, é fundamental. O Campo do Outeiro foi construído entre 1928 e 1929 e está sem alterações há mais de 90 anos.”
“A demolição do atual campo estava prevista para maio e em setembro já estaríamos no novo, mas parece-me que haverá um ligeiro atraso, de cerca de dois meses. Seja como for, ainda em 2022 deixaremos de pisar a lama e levar com o pó do pelado”, remata o presidente do clube de Paranhos.
“Desapareceram todos os pelados do Porto, menos o do Sp. Cruz“
Em 102 anos de história, o Sp. Cruz formou milhares de jogadores e a principal referência é José Nuno Azevedo, antigo lateral que representou o Sp. Braga durante mais de uma década. Zé Nuno pisou o pelado do Campo do Outeiro entre 1982 e 1985, antes da mudança para a formação do FC Porto.
“Eu saí em 1985 do Sp. Cruz para o FC Porto e em 2022, quase 40 anos depois, o campo está igual. É o último pelado da cidade e acredito que mesmo no Distrito do Porto já não haverá mais nenhum, só se for no interior”, diz o atual treinador e comentador desportivo.
Para o atual treinador e comentador, a terra batida já não faz sentido no mundo do futebol. “Claro que os pelados deixam saudades pelas memórias que criaram, mas as condições eram surreais. As pessoas criticam os sintéticos, nomeadamente devido às lesões dos jogadores, mas é uma evolução clara”
Com o fim do pelado do Campo do Outeiro, termina a era da terra batida na cidade do Porto. O parque desportivo da Invicta tem sofrido inúmeras mutações ao longo dos anos e os adeptos foram perdendo de vista algumas emblemas históricos, sujeitos a constantes mudanças.