Gaivotas do Porto comem queques e carne na Baixa e peixe no Douro ou na lota

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As gaivotas que habitam no Porto tanto se alimentam de queques e carne na Baixa da cidade, como comem peixe ao longo do rio Douro até Pinhão (Vila Real) e vão à lota de Matosinhos, revela um estudo científico.

“Gaivotas urbanas e o ser humano, uma relação cada vez mais complicada” é o nome da tese de doutoramento que Joana Faria, 28 anos, está a desenvolver no Porto, desde maio deste ano, e que se concentra na monitorização de cinco gaivotas adultas através de aparelhos GPS, que funcionam a energia solar e acoplados às costas daquelas aves.

A investigadora da Universidade de Coimbra, que está a trabalhar com o apoio da Sociedade Portuguesa de Estudo das Aves (SPEA), colocou em cada uma das cinco gaivotas um sistema navegação à distância “GPS/GSM loggers” que localiza os animais selvagens, permitindo também saber os percursos que fazem, o que comem, analisando os regurgitados, onde nidificam e que materiais utilizam.

O estudo tem várias vertentes, descreve Joana Faria, revelando que há uma contagem mensal num total de 36 pontos da região, desde Vila Nova de Gaia, ao Porto, em locais como a rua de Santa Catarina, Ribeira ou Torre dos Clérigos, até Leça da Palmeira, em Matosinhos, passando por zonas ribeirinhas, costeiras, parques verdes e zonas urbanas.

“O objetivo é perceber que tipo de habitat frequentam e a sua variação ao longo de um ano”, explica a investigadora, referindo que fazem “viagens longínquas”, mudam as dietas quando chega o momento de alimentar as crias, passando a comer mais peixe. Porém, depois de uma análise ao regurgito, descobre-se que também comem vidros, metal, plástico, queques ou ossos.

As gaivotas em análise – gaivota-de-patas-amarelas – também apresentam ninhos diferentes, conforme o local que escolhem para nidificar. Nas cidades utilizam mais plásticos e nos meios naturais recorrem mais a material vegetal, por exemplo.

O GPS é colocado às “costas da gaivota”, numa minimochila, e permite saber que frequentam não só o centro de reciclagem de Lustosa/Sousela e o aterro de Sermonde, mas também as Estações de Tratamento da Área Metropolitana do Porto, Lota de Matosinhos, e as áreas de portos de pesca das cidades vizinhas do Porto.

“Numa semana, a localização da gaivota pode variar muito e isso é um problema difícil de resolver”, observou Pedro Rodrigues, técnico da SPEA, descrevendo que um dia uma gaivota pode deslocar-se a Espinho, no outro visita uma lixeira, a seguir vai para a Baixa do Porto, podendo mesmo subir o rio Douro até ao Pinhão e voltar depois, novamente, à cidade.

Pedro Rodrigues lembra que as gaivotas continuam a ser animais selvagens e que é preciso interpretar os seus comportamentos à luz deste princípio, porque mantêm o seu instinto de sobrevivência.

“Mantêm instintos de sobrevivência, tornando-se mais ciosas do ninho na reprodução, pelo que exibem comportamentos intimidatórias nesta época. Se fomentarmos a perda de medo pelo humano, entramos num campo complicado em que podem haver interações negativas com pessoas, por parte de indivíduos que deixam de desconfiar de humanos, mas mantém os traços comportamentais de uma espécie oportunista”, explica.

A gaivota apresenta um grau elevado de “plasticidade”, ou seja, usa diferentes recursos ecológicos para se adaptar às variações e é um animal que não tem muitos predadores e que vai aprendendo “os métodos de espantamento”, como por exemplo, aprende a reconhecer disparos falsos, vocalização falsa de predadores e alarmes de aves de rapina para as afastar, alerta o especialista.

Qualquer método de espantamento torna-se ineficaz passado um determinado tempo, por causa da “habituação”, explica.

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