Retorno de notas falsas ao local do crime trama funcionária de limpeza da PJ do Porto

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e o arrependimento matasse, Maria Odete, nascida no Dia do Trabalhador de 1953, já “não andava cá”. Funcionária da PJ do Porto há 29 anos, encarregada de limpeza no Laboratório de Polícia Científico da Diretoria do Norte desde 2011, Odete confessou, esta terça-feira, ser a autora dos crimes de que é acusada, embora afirme que cedeu “à tentação pressionada por uma amiga” e vizinha de longa data.

“Estava sempre a queixar-se que precisava de dinheiro e eu tinha pena dela”, contou Maria Odete na primeira sessão do julgamento, em que também são arguidos a amiga Sofia, de 58 anos, desempregada, e o genro Miguel, servente de profissão, todos residentes em Contumil, no Porto, na altura dos crimes.

Confessa Odete – que apenas pediu para não prestar depoimento na presença dos outros dois arguidos – que em maio ou junho de 2015, enquanto limpava o laboratório, viu e abriu uma caixa de cartão preta, colocada numa estante, e retirou uma série de notas que, diz, não estavam marcadas como falsas. Segundo a acusação, a funcionária de limpeza apropriou-se de 13 notas contrafeitas de 20 euros e duas de cinco euros, que Maria Odete e Sofia colocaram a circular em diversos estabelecimentos comerciais: na compra de calçado para uma, e outra numa sapataria de São Mamede de Infesta, em Matosinhos, numa papelaria, numa tabacaria ou na Confeitaria Triguinho, na área da residência, em Contumil.

O azar de Maria Odete foi as notas falsas, detetadas em diversas agências bancárias, terem sido remetidas para a polícia científica da PJ do Porto, tendo os peritos descoberto que as notas já tinham sido sujeitas a exame pericial, marcadas e arquivadas no local do crime, conforme depoimento de várias testemunhas da PJ do Porto, especialistas em contrafação de moeda e arquivistas. Embora não tivessem o carimbo de falsas, as notas, segundo a acusação e os peritos ouvidos no Tribunal de São João Novo, tinham “um registo numérico que não era perceptível pela generalidade das pessoas” que as identificavam como contrafação.

A auxiliar de limpeza, de quem ninguém tinha razões de queixa, acabaria por ser a suspeita principal do desaparecimento, cerca de um ano depois, em meados de 2016, de cinco placas de haxixe de peso bruto de aproximadamente 500 gramas, cujo valor de mercado está calculado em 2500 euros. Revela agora Maria Odete que retirou de um saco de plástico uma placa “de droga”, que colocou no caixote do lixo e depois levou consigo, confidenciando que o fez de novo instigada pela amiga: “Dizia que eu era como uma mãe para ela e só queria ajudar”, afiança a principal arguida no processo.

À saída da PJ, pelo meio-dia, Maria Odete confirma que foi a casa de Sofia e, tal como combinado, entregou-lhe o haxixe e recebeu em troca 100 euros. De acordo com a acusação, a arguida Sofia terá entregado ao genro, Miguel, por intermédio da filha, as placas de estupefacientes para venda, que por sua vez entregou 90 euros à sogra. Uma e outro irão prestar depoimento em tribunal na próxima terça-feira.

Miguel está indiciado por um crime de tráfico de estupefacientes; Sofia de um crime de peculato, seis de passagem de moeda e um de tráfico de haxixe. Maria Odete, viúva há 14 anos, despedida da PJ em fevereiro último e atualmente desempregada, nega ter conhecimento que as notas eram falsas. É acusada e seis crimes de passagem de moeda e também de um crime de peculato e outro de tráfico de estupefacientes.

artigo retirado originalmente do EXPRESSO

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