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Trânsito

É no Porto que se perde mais tempo no trânsito

Conduzir no Porto à hora de ponta pode ser um verdadeiro teste à paciência dos automobilistas, que ficam muitas vezes bloqueados em longas filas, onde a velocidade de circulação é extremamente baixa.

Nos períodos mais críticos do dia, a Invicta é mesmo a pior cidade do país para andar de carro, à frente de Lisboa, que tem muito mais população. Surpreendente é também o terceiro lugar de Guimarães entre os grandes centros urbanos nacionais com mais trânsito à hora de ponta.

O ranking divulgado há dias pelo INRIX tem por base a análise do impacto do trânsito em 1360 cidades de 38 países, sendo a lista liderada por Los Angeles, nos Estados Unidos, seguida de Moscovo, Nova Iorque, São Paulo e São Francisco. O Porto surge na 245.ª posição, Lisboa na 375.ª e Guimarães na 515.ª, quando se analisam os períodos mais conturbados do dia, as chamadas horas de ponta. O principal parâmetro do estudo são as horas despendidas (média de horas que o condutor passa ao volante em horas de ponta) e, apesar de elevadas, as percentagens das cidades portuguesas estão longe das primeiras 100 do ranking.

O facto de o Porto ser a primeira cidade portuguesa a surgir nesta lista preocupa a autarquia liderada por Rui Moreira, que “está a intervir a vários níveis distintos mas complementares, ao nível da gestão do tráfego com medidas a curto, médio e longo prazo”.

Reagindo aos números do estudo, a Câmara do Porto dá como exemplo as medidas que está a implementar como o novo Sistema de Gestão da Mobilidade “que visa a substituição integral do atual Sistema de Gestão de Tráfego e Sistema de Gestão de Vídeo, bem como a renovação da rede de telecomunicações”. O prazo para a substituição e expansão do atual sistema é de cinco anos, sendo que ao fim do terceiro o sistema já estará a funcionar com base na nova tecnologia. “Este novo sistema dotará a cidade de novas ferramentas de gestão de tráfego muito mais inteligentes e eficientes. O custo é de 10 milhões de euros em cinco anos e transformará por completo o paradigma de gestão de tráfego da cidade”, refere fonte do gabinete de comunicação da Autarquia.

Paralelamente, foi criado um Sistema Interno de Comunicação de Eventos que consiste na disseminação via Centro de Gestão Integrada (CGI), de situações de perturbação do tráfego (acidente, incêndio, avarias nas infraestruturas, por exemplo), o que “permite agir proativamente na sua resolução”. A Autarquia fala também de uma melhoria na coordenação entre a Direção da Mobilidade e Transporte e a Polícia Municipal, agora responsável pela Divisão de Trânsito, e que tem recebido dezenas de efetivos da PSP.

“A razão principal para haver mais pressão tem a ver com o aumento da atividade económica, sobretudo porque há hoje mais gente a trabalhar na cidade e muito mais empresas. Pela primeira vez em 50 anos, a cidade deixou de perder habitantes e o número médio de veículos por habitante também cresce no país”, salienta aquela fonte.

Opinião contrária tem, no entanto, o presidente da Associação dos Comerciantes do Porto (ACP), que considera que “a cidade mudou muito nos últimos anos e o problema crescente do tráfego rodoviário precisa de mais do que intervenções avulsas”. Nuno Camilo diz que “a cidade está a sofrer uma transformação e há setores como a restauração que devido ao grande dinamismo fazem aumentar cargas e descargas”. Como resultado, são vários os fornecedores com carrinhas estacionadas em segunda fila à porta de talhos, padarias, cafés e junto aos corredores e paragens de autocarros. “Há questões em termos operacionais que devem ser estudadas, nomeadamente saber que cidade queremos ter em termos de mobilidade, até porque o consumidor de hoje é um consumidor comodista, quer conforto”, diz o presidente da ACP.

Também Rio Fernandes, professor universitário e presidente da Associação Portuguesa de Geógrafos, considera que, apesar das medidas já implementadas, no Porto tem falhado sobretudo a relação entre o planeamento urbanístico e o planeamento dos transportes. “Durante muito tempo falhou ainda a existência de uma política de transportes orientada para as pessoas, com as várias empresas, privadas e públicas de autocarros e metro e comboio, a competirem entre si e nós saindo a perder da descoordenação e menor eficiência. Agora não, o serviço prestado e sobretudo as possibilidades oferecidas por cartões de uso indiferenciado de meio de transporte, melhoraram as condições de mobilidade. Falta todavia um plano metropolitano de circulação e, desde sempre, a articulação entre urbanismo e mobilidade”, refere Rio Fernandes.

Também o geógrafo é da opinião de que os responsáveis pelas grandes cidades portuguesas têm sido apanhados de surpresa pela sua transformação rápida. “Regra geral, reagem ao que acontece. Ou ficam indiferentes e simplesmente deixam andar. É a lei do mercado, dirão alguns. Poucas vezes se vê dirigentes de cidade e de instituições a antecipar e procurar fazer acontecer o que desejam que aconteça. Claro que há bons exemplos, neste ou naquele município. Mas, regra geral, o que há é a tentativa de acomodar a novidade, sem estudar bem as consequências. Nalguns casos, há mesmo medidas contraproducentes, como a multiplicação de lugares de estacionamento onde não devia ver automóveis a entrar e a sair (como no centro do Porto), ou a isenção de IMI em áreas onde domina a especulação imobiliária, como no centro histórico”, acrescenta.

A Câmara salienta que “está a fazer vários estudos em simultâneo, que visam conhecer melhor a cidade e os hábitos dos mobilidade dos seus cidadãos e visitantes. Os mesmos estudos permitirão desenvolver políticas e projetos mais sustentados e melhor orientados”.

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