Pais de crianças com cancro no S. João revoltados com palavras de Centeno
Mário Centeno viu, não gostou e criticou no Parlamento a publicação na Comunicação Social de fotografias de crianças com cancro a serem tratadas com quimioterapia nos corredores do Hospital de São João, no Porto.
Questionado, o ministro das Finanças recusou participar em “debates sustentados em notícias de jornal que não correspondem à verdade”. O pais das crianças estão chocados e afirmam que, se não fosse a denúncia feita pelo JN, os filhos “ainda estavam a ser tratados em condições degradantes”.
“Quem não falou a verdade foram os ministros, tanto o das Finanças como o da Saúde, que convido a visitar a unidade hospitalar como utentes para perceberem o que lá se passa e como são tratados os nossos filhos”, afirma Jorge Pires, porta-voz dos pais que em breve serão constituídos em associação de forma a recorrerem aos tribunais para obrigar o Estado a construir a ala pediátrica.
O ministro foi questionado sobre as condições existentes na ala pediátrica de oncologia naquele centro hospitalar mas, mais do que falar sobre a situação que se verifica, optou por criticar “as notícias de jornal que não correspondem à verdade e que deturpam, utilizando fotografias de crianças, a verdade daquilo que se passa no São João”. Sobre as obras de construção da ala pediátrica, prometidas mas entretanto adiadas para serem concretizadas até ao final da legislatura, Mário Centeno apenas referiu que “este investimento está a ser trabalhado, está a ser planeado, é um investimento de grande dimensão”.
Obras após denúncia
Mário Centeno terminou assim a breve inquirição dos deputados. “Se nós continuamos a debater aqui questões com esta relevância, com base em fotografias com legendas erradas não estamos a fazer um bom serviço aos cuidados pediátricos e à nação”, justificou.
Jorge Pires, porta-voz dos pais das crianças internadas ou em tratamentos oncológicos no hospital, mostra-se indignado com as declarações proferidas e salienta que “foi com base em fotografias verdadeiras publicadas no JN que o caso foi denunciado e a situação como as crianças são tratadas melhorada”.
Foi graças à denúncia feita pelo JN em abril que entretanto foram realizadas obras na zona das consultas externas do hospital, tendo as consultas de ambulatório de oncologia pediátrica sido inauguradas no passado dia 22 de junho, nove anos depois do serviço estar a funcionar em contentores que deveriam ser provisórios.
O internamento ficou nos contentores. Quando não existem camas disponíveis “as crianças doentes são encaminhadas ou para a oncologia no corpo do edifício hospitalar ou para a pediatria normal”. E, recorda Jorge Pires, “como um mal nunca vem só”, o bloco operatório esteve no dia da inauguração fechado devido a uma praga de moscas.