O Porto vende pelo menos 35 mil francesinhas por dia nos mais de 700 cafés e restaurantes da cidade, o que significa que por mês há cerca de um milhão daquelas sanduíches especiais a serem degustadas no município.
A venda de francesinhas deve movimentar diariamente 280 mil euros na economia da região. Os turistas também contribuem .
O Porto vende pelo menos 35 mil francesinhas por dia nos mais de 700 cafés e restaurantes da cidade, o que significa que por mês há cerca de um milhão daquelas sanduíches especiais a serem degustadas no município.
Em cada um dos 700 cafés e restaurantes típicos do Porto estima-se que sejam vendidas, diariamente, cerca de 50 francesinhas, a um preço médio de oito euros.
É um negócio que pode movimentar diariamente 280 mil euros na micro economia regional e mais de oito milhões de euros por mês.
“Vendemos à vontade 500 francesinhas nos dias bons a uma média de 9,5 euros, mas o negócio é sazonal e num dia mau pode vender-se apenas 60 unidades”, conta José Araújo, funcionário na Cufra da Foz. Ali, os turistas que chegam são na maioria espanhóis, ingleses e holandeses, correspondendo a 15% da clientela.
No Capa Negra, outro restaurante típico do Porto, são vendidas cerca de 800 francesinhas às sextas-feiras e sábados e restantes dias da semana a média de vendas ronda as 500 francesinhas, com preços a variar entre dez e 12,5 euros, conta o funcionário Miguel Sampaio.
O sucesso da francesinha, uma recriação do ‘croque monsieur’, sanduíche tipicamente francesa, repete-se também no Santa Francesinha, na Praça dos Poveiros, onde se vendem 600 por dia, como acontece aos domingos, dia em que estão abertos até à meia noite, observa José Alípio. Chineses, japoneses, russos e ingleses são os turistas mais entusiasmados em provar a iguaria criada há 67 anos no Porto, segundo reza a história.
Dados do Instituto Nacional de Estatística indicam que no Porto há 724 cafés e 38 restaurantes típicos, para além dos “551 restaurantes tipo tradicional” e das “199 pastelarias e casas de chá” e, segundo o presidente da Associação de Comerciantes do Porto, Joel Azevedo, a maioria tem no cardápio francesinhas.
“São muitos milhares de francesinhas vendidas por dia. Se imaginarmos os mais de 700 cafés, em que estimo que 80% a 90% tenham francesinhas, e se somarmos os restaurantes que vendem esta iguaria, estamos a falar de números muito grandes de faturação no Porto”, considera Joel Azevedo, reconhecendo que aquela sanduíche especial, inventada no Porto nos anos 50, e que está entre as mais famosas do mundo, é por si só “um atrativo para que os turistas visitem a cidade” e ajudem a aumentar o volume de negócios.
Para Joel Azevedo a “mítica sanduíche” é importante para a economia local e para a atração turística. “A francesinha é um daqueles produtos que nos distingue das outras cidades. Por muito que possam imitar a francesinha, nunca é igual do que servida no Porto”.
No Golfinho, na Baixa do Porto, com cinco mesas e um balcão onde cabem oito comensais, a venda da francesinha, a oito euros cada, aumentou em “70% com a chegada de turistas ao Porto”, assumiu o senhor Silva, proprietário do estabelecimento que tem todos os dias lotação esgotada, onde clientes antigos se misturam com os turistas espanhóis, os principais forasteiros que ali chegam para degustar a iguaria, seguidos pelos “franceses, finlandeses, japoneses e indonésios”.
Noutro local icónico do Porto, o Café Velásquez, nas Antas, vendem-se por dia 50 francesinhas, número que duplica nos dias de jogo do FC Porto e aos fins-de-semana, conta Costa Leite, um dos sócios do espaço, lembrando que de há três anos, as vendas aumentaram 30%.
“Quem vem de fora, quer provar o petisco”, constata Costa Leite, recordando que os turistas brasileiros e os franceses são os que mais procuram a francesinha.
Segundo Hélio Loureiro, chefe de cozinha com livros sobre gastronomia portuense, a francesinha do Porto nasceu em 1952 do pela mão do jovem Daniel David da Silva que foi trabalhar para o restaurante A Regaleira, na Baixa do Porto, encerrado em 2018, depois de ter estado a trabalhar com o seu tio em Paris, que era chefe no Hotel Bernard, nos Campos Elísios.
Daniel David da Silva, que se perdeu em passeios de autocarro e de metro “mirando as pernas das parisienses”, pois as minissaia estavam na moda, descobriu então as sanduíches especiais tipo ‘croque monsieur’ e o ‘croque madame’, explica Hélio Loureiro.
O jovem regressa ao Porto e em 1952 recria na Regaleira o ‘croque monsieur’, onde lhe adiciona a “salsicha fresca, lombo de porco assado, fiambre e, tal como na receita francesa, o queijo por cima derretendo aquele pão de carcaça, que no Porto se chama de molete em homenagem ao intendente Mulet”, descreve o chefe de cozinha, assumindo que a francesinha do Porto é uma sanduiche que “está entre as dez mais famosas do mundo”.
“A francesinha era e é comida noite fora, é boémia e bairrista”, menciona ainda o chefe de cozinha, referindo que aquele prato “destronou as tripas à moda do Porto”.
[Por Cecília Malheiro, da agência Lusa]