Este foi um dos hóteis de maior importância do Porto no séc.XIX
Na moderna avenida dos Aliados, logo ali à entrada, onde agora se encontra a estátua da menina nua, uma das obras primas do escultor Henrique Moreira, esteve, em tempos idos, o Hotel de Francfort, um dos mais importantes do Porto dos finais do século XIX.
Foi demolido em 1916 para possibilitar a abertura da avenida que começou por se chamar das Nações Aliadas, e compreende-se porquê: quando aquele espaço começou a ser urbanizado a primeira Grande Guerra tinha terminado e o nome dado à nova artéria constituiu uma homenagem às nações vencedoras.
O edifício onde funcionou o hotel foi construído em 1851, em pleno Romantismo, por iniciativa do rico negociante da praça do Porto, Luis Domingos da Silva Araújo.
O terreno onde se ergueu o imóvel tinha má fama. Servira, antes, de cemitério de cães. O Porto foi uma das primeiras cidades da Europa a ter um terreno para o exclusivo enterramento de cães.
Era um pedaço de terra em forma de cunha pois fazia gaveto entre duas das mais movimentadas artérias do Porto do século XIX: a rua do Laranjal que tomou o nome de uma quinta com esse nome; e a rua de D. Pedro (o IV) que primitivamente se chamara rua do Bispo, por ter sido aberta em terrenos que eram da Mitra, ou seja, da diocese; e à qual, após a implantação da República, deram o nome de Elias Garcia, um grande propagandista dos ideias republicanos.
O hotel era procurado, especialmente, por gente ligada ao Teatro: atores e músicos, na sua maioria. Uma das celebridades que por lá passou foi a atriz Elisa Hensler que veio a casar com o rei D. Fernando. Mas foi procurado, também, por políticos daquele tempo (António José de Almeida era lá assíduo) e por brasileiros de torna viagem.
No regresso do Brasil era lá que se hospedavam antes de rimarem à terra natal. Um deles, o conde de Alves Machado ficou no Francfort durante mais de quarenta anos. Fez dele a sua residência no Porto.
Ainda tinha hóspedes quando o camartelo municipal o começou a demolir. Ao noticiar a demolição, um jornalista da época escreveu que “algo de saudoso lhe custava a desprender-se do sítio onde estava”.
Foram vários os suicídios que aconteceram na penumbra dos seus quartos. O mais célebre foi o da namorada de um filho do célebre Urbino de Freitas, lente da Escola Medico Cirúrgica do Porto que a Justiça condenou em degredo por envenenamento de um sobrinho. Ao que parece para que a mulher fosse a única herdeira da grande fortuna dos sogros, ricos comerciantes da rua das Flores.
Quantas “estórias” há na história desta emblemática artéria do Porto! O último cadáver que saiu do Hotel de Francfort foi o do dr. Teixeira de Sousa, chefe do partido Regenerador e chefe do Governo à altura da queda da monarquia.
Não pôs termo à vida mas morreu amargurado pelos acontecimentos de 1910.
Autor do artigo: Germano Silva in Histórias Portuenses (VISÃO)