A Câmara do Porto abriu o procedimento de classificação como Monumento de Interesse Municipal (MIP) do Grande Hotel do Porto, situado no centro histórico, por considerar que o imóvel representa um “valor cultural de significado relevante”.
No edital publicado nesta terça-feira em Diário da República, o Município defende que o Grande Hotel do Porto, com entrada virada para a Rua de Santa Catarina, representa “um valor cultural de significado relevante, uma vez que reflete valores municipais de memória, exemplaridade e autenticidade transportados para a atualidade”.
A sua classificação como Monumento de Interesse Municipal, acrescenta o documento, “representará uma mais-valia, enquanto testemunho construído e simbólico, integrante da história social da cidade”.
Na fase de instrução do procedimento de classificação, o imóvel em causa fica abrangido pelas disposições legais em vigor, pelo que a partir da data desta notificação a sua alienação ou transmissão, por herança ou legado, dependem de prévia comunicação. As disposições legais determinam ainda que, nesta fase, os comproprietários e a Câmara do Porto gozam, pela ordem indicada, do direito de preferência em caso de venda ou dação em pagamento.
Não poderão ainda ser concedidas pela autarquia, nem por outra entidade, licenças para obras de construção e para quaisquer trabalhos que alterem a topografia, os alinhamentos e as cérceas e, em geral, a distribuição de volumes e coberturas ou o revestimento exterior do edifício, sem prévio parecer favorável dos serviços municipais competentes.
Um hotel do século XIX
O Grande Hotel do Porto abriu portas em 27 de março de 1880 e ainda hoje se mantém em funções.
O hotel recebeu nobres e aristocratas de todo o mundo e foi refúgio de espiões, políticos e exilados. Foi também cenário privilegiado de artistas, boémios e intelectuais, muitos dos quais elegeram o Grande Hotel do Porto para viver na cidade, conforme adiante a agência Lusa.
O projeto do Grande Hotel do Porto foi encomendado ao arquiteto José Geraldo da Silva Sardinha por Daniel Martins de Moura Guimarães, um portuense bastado, recém-chegado do Brasil.
O edifício com fachada vitoriana incluía o que mais de moderno exista em termos de conforto, comodidade e luxo de que são exemplo os espelhos franceses, os florões dourados e as colunas em mármore.
O hotel oferecia 40 quartos, cinco suítes – uma delas a suíte real – bem como sala de leitura, de música, de jogos e a Sala das Senhoras.
Nas traseiras do Hotel, na Rua do Ateneu Comercial do Porto, situavam-se os balneários, abertos ao público com água quente e fria, naquilo que seria à altura “um antecessor dos modernos ‘spa’”.
Na mesma década os Imperadores do Brasil D. Pedro II e D. Teresa Cristina ocuparam o primeiro piso, que foi especialmente adaptado para receber a comitiva real.
Nos últimos anos do século XIX, José de Oliveira Bastos, também ele regressado do Brasil, entra para a sociedade, tendo mais tarde, após a morte de Moura Guimarães e já como único proprietário, iniciado obras de ampliação.
No final, o Hotel passa a oferecer mais 55 quartos e um terraço que atraiu muitas personalidades.
Mais tarde, com a venda do edifício a D. Ângelo Vasquez Enriquez e António Maria Lopes, a ampliação e reforma do espaço continuou tendo sido criada uma nova cozinha no vão que existia entre o hotel e a então Camisaria Confiança.
Entre 1920 e 1940 nasce o Salão de Inverno, e entre 1940 e 1960, já como António Maria Lopes como único proprietário, dá-se outra grande reforma nas instalações, passando todos os quartos a contar com casa de banho privativa e completa.
Entre 1960 e 2017, o hotel continuou a sofrer sucessivas remodelações, respeitando o espírito clássico e a herança de 1880, a última das quais foi a criação no terraço do edifício de uma horta biológica, cujos produtos são utilizados na confeção do restaurante.
Fonte: Porto.pt