A injustiçada “Árvore da Forca” na Cordoaria

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A cidade do Porto já teve o seu Rossio. O antigo “Rocio da Cidade”. Foi, depois, e sucessivamente, o Campo do Olival, a Cordoaria e é, agora, o Campo dos Mártires da Pátria.

Mas, antes de tudo isso, foi o eirado de todos os júbilos, motins, folganças, glórias e desesperos. Foi lugar de feira popular que se realizava pelo S. Miguel nos finais do século XIX, muro de derrete das moças do Mercado do Anjo e da Feira do Pão.

Ali, aclamou-se D. João I. Por lá passou o cortejo de D. Filipa de Lencastre, quando veio ao Porto para casar com o mestre de Avis.

Nesse sítio, esteve o animatógrafo, quando deixou a rotunda da Boavista; desfilaram paradas militares, cortejos e bailaricos, festas da nobreza e festas do povo.

Com o seu jardim descaracterizado, maltratado, vilipendiado, a Cordoaria, vamos continua a dizer assim, é, ainda, e sobretudo, uma página da história portuense. Porque a memória não se apaga.

O verdadeiro padrão dessa praça foi um “ulmus” famoso, uma curiosidade bairrista sem a expressão e o pitoresco de um monumento de verdade, mas ainda assim popular e venerando.

Essa árvore velhinha, plantada em 1612 e que só morreu (de pé) mais de trezentos anos depois; que resistiu a muitos temporais e saiu incólume de um incêndio; que deu sombra e pousio a várias gerações; sofreu uma calúnia grave acusaram-na de ter cedido um dos seus mais possantes ramos para nele serem enforcados ladrões, bandidos e arruaceiros. Tudo mentira. Na chamada “árvore da forca” nunca alguém foi pendurado.

A primeira acusação diz que foi nessa árvore que o juiz José de Mascarenhas mandou enforcar os revoltosos que ousaram protestar contra uma medida do Marquês de Pombal que proibiu os taberneiros do Porto de venderem vinho a retalho. É falso. Os revoltosos morreram na Cordoaria, sim senhor, mas em seis forcas de madeira que, para esse efeito, foram propositadamente levantadas no Campo do Olival como então era conhecido aquele espaço que fica ao cimo da Rua dos Caldeireiros e entre as entradas das ruas de Trás e de S. Bento da Vitória.

Em 1829, houve novos enforcamentos , desta vez políticos. Foi a morte de doze liberais que viriam a ser considerados como Mártires da Pátria – denominação que acabou por ser dada à antiga Cordoaria. Também estes foram enforcados, mas nos patíbulos que os seus carrascos levantaram na antiga Praça Nova, hoje Praça de Liberdade. O velho “ulmus” foi testemunha muda de alguns enforcamentos que se fizeram no antiga campo do Olival mas nunca participou em nenhum.

Nem naqueles que ocorreram no dia 2 de Março de 1810, para castigar os cabeças dos tumultos que tiveram lugar no dia da entrada dos franceses na cidade. Dizem as crónicas da época que os acusados mataram várias pessoas, sob o falso pretexto de que eram jacobinas, isto é, amigos dos franceses. Os corpos dessas pessoas, entre as quais figurava o do fidalgo da Casa da Bandeirinha, João da Cunha Araújo Portocarrero, coronel do Exército Português, foram arrastados pelas ruas da cidade e, mais tarde, lançados às águas do Douro.

Em 1831, houve novos enforcamentos. Os protagonistas de triste cena foram meia dúzia de facínoras sobre cujas cabeças pendia a acusação de terem assassinado uma família em Coimbra. Morreram todos por enforcamento, na Cordoaria, mas em forcas que foram erguidas onde anos mais tarde se construiu o lago.

Era muito mais vasto do que se pode imaginar o antigo Campo do Olival. Pode-se ficar com uma ideia da sua vastidão se dissermos que se estendia desde a Porta que havia na muralha fernandina, com aquela designação, junto à entrada da Rua de S. Bento da Vitória, pelos sítios que hoje conhecemos como a Praça de Parada Leitão, Rua do Carmo, Praça de Carlos Alberto, Largo do Moinho de Vento, Praça de Guilherme Gomes Fernandes, Rua de José Falcão, Rua da Conceição e Rua das Oliveiras, a única onde o topónimo se mantém. Em 1611, as oliveiras estavam velhas, raquíticas e sem préstimo. Por isso foram cortadas e substituídas por “ulmus campestris” ou olmos, transformando-se o vasto campo em Alameda.

Esta plantação foi realizada à custa de um imposto denominado de “imposição do vinho”. No ano seguinte, a Câmara colocou guardas a velar pela integridade das novas árvores. Pagava 15$00
reis por ano a cada um dos quatro homens que tinham a incumbência de guardar a recém-criada Alameda.

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