A CDU/Porto viu recusada, esta segunda-feira, uma proposta para parar ou mudar o nome do monumento de homenagem aos combatentes no Ultramar, tendo o presidente da autarquia esclarecido que o compromisso foi assumido durante o mandato de Rui Rio.
A proposta, que dividiu o executivo, foi rejeitada com os votos contra da maioria municipal e do PSD e a abstenção de três dos quatro vereadores do PS, que deu liberdade de voto aos seus vereadores.
A recomendação, apresentada pela vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, a coligação proponha a paralisação da obra de instalação do monumento de homenagem aos combatentes no Ultramar ou que “no mínimo” fosse alterada a sua designação, defendendo que um investimento de 40 mil euros merecia um debate público.
Em causa a iniciativa da Associação para o Monumento de Homenagem aos Militares do Porto que combateram no Ultramar, apoiada pela Câmara do Porto, cujos trabalhos, iniciados em janeiro e com conclusão prevista para o final de março, foram prolongados até 23 de abril, de acordo com a informação disponibilizada no site da GO Porto, entidade gestora da obra.
O Memorial do Porto aos Combatentes do Ultramar, cujo projeto foi assinado pelo arquiteto Rodrigo Brito, vai ser instalado em Lordelo do Ouro, ao lado da Capela do Senhor e Senhora da Ajuda e contempla a construção de uma praça hexagonal composta por cinco lápides e oito bancos, todos revestidos a granito.
Durante a discussão da proposta, Ilda Figueiredo salientou que a guerra colonial não afetou apenas quem esteve nesse combate, mas também os povos, pelo que sugeriu a alteração da sua designação para monumento de homenagem aos povos vítimas da guerra colonial.”
Numa declaração lida, o presidente da Câmara do Porto, o independente Rui Moreira, esclareceu que o município foi contactado pela Associação, ainda no mandato anterior, exprimindo o seu desejo de ver, no espaço público, edificado um monumento evocativo da memória dos ex-combatentes.
“O executivo do Senhor Dr. Rui Rio havia-se comprometido nesse sentido, mas, por razões que não conhecemos, essa promessa não se tinha materializado. Entendi como justa esta aspiração”, salientou, acrescentando que, ainda no anterior mandato se estudaram soluções de implantação no espaço público, nomeadamente na envolvente do Forte de São João da Foz.
De acordo com o autarca, coube à Divisão Municipal de Projetos e Estudos Urbanísticos encontrar, em conjunto com a Associação e com o seu arquiteto, um local adequado à instalação desse monumento no espaço público, estando agora a GO Porto incumbida da sua realização.
Moreira contesta ainda o sentido da recomendação da CDU, salientando que há inúmeros monumentos, em diversas cidades do país, que homenageiam os combatentes na Guerra do Ultramar, “e não será a CDU a inibir a cidade do Porto de ter um monumento dessa natureza”.
“O monumento, de singela beleza, homenageia todos aqueles que, chamados a cumprir o seu dever cívico, combateram nessa guerra. Ninguém lhes perguntou se era justa, ou se não era. O que sabemos é que deixou chagas, feridas, mortos e mutilados. Que combateram pela Pátria. Entendemos, com toda a tolerância, que a CDU não tenha essa visão. Porque continua a defender uma ideologia que morreu. E todos os dias tenta reescrever a história”, disse.
Em resposta ao independente, a vereadora da CDU lamentou “a visão anticomunista e primária”, sublinhando a tolerância da proposta apresentada que, admitia, que fosse mudada apenas a designação atual do monumento, cuja conotação já era “condenada nos anos 60 e 70”.
Pelo PSD, Álvaro Almeida mostrou-se ao lado da CDU no que respeita ao tipo de assuntos que são debatidos na autarquia, mas indicou que na questão substantiva, considera que aqueles que defenderam o país, independentemente dos objetivos dessa guerra, devem ser homenageados.
A vereadora socialista e historiadora Maria João Castro, que votou a lado da CDU, disse, que em 2021 não faz sentido, a designação escolhida, desejando que se tivesse chegasse a um monumento que “unisse” todos.
Também o socialista Manuel Pizarro, que decidiu abster-se, questionou a designação do monumento, salientando que esta é uma iniciativa da sociedade civil, “mas que só é possível graças ao patrocínio da câmara”.
Fonte: LUSA