47% dos idosos internados no S. João estavam desnutridos

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Quase metade dos idosos internados no Hospital de S. João, no Porto, estava desnutrida. O rastreio foi realizado a mais de 13 mil doentes com idade igual ou superior a 65 anos, no momento da admissão, entre novembro de 2015 e 31 de março de 2017.

“A prevalência da desnutrição é maior entre as mulheres e aumenta com a idade”, explica, ao JN, Sandra Marília, coordenadora da Unidade de Nutrição e Dietética do Centro Hospital de S. João. A idade média dos doentes rastreados é de 75 anos e, no momento da avaliação, 50,3% dos homens e 38,7% das mulheres estavam nutridos. Ou seja, dois terços das mulheres e quase metade dos homens com idade igual ou superior a 65 anos corriam risco de desnutrição ou já estavam efetivamente desnutridos.

A avaliação do estado nutricional dos idosos internados no Hospital de S. João, concretizada ao longo de um ano e três meses, foi divulgada esta manhã de quinta-feira, no Porto. O centro hospitalar acolheu cerca de 64 mil doentes no internamento nesse período, dos quais 22.916 eram idosos. Os utentes com internamentos de curta duração, nomeadamente para a realização de exames, foram excluídos do estudo. O rastreio incidiu, então, sobre os pacientes idosos com internamentos mais longos.

O primeiro trabalho foi efetuado pelos enfermeiros na admissão do doente, com recurso a uma nova ferramenta informática (MNA-SF) que permite identificar, de forma preliminar, o estado nutricional através de um conjunto de questões. Caso haja risco de desnutrição, essa ferramenta emite um alerta para a Unidade de Nutrição e Dietética do centro hospitalar portuense, que, por sua vez, fará o diagnóstico.

No momento de admissão, 55,2% dos doentes apresentava risco de desnutrição associado à doença. Após o diagnóstico da Unidade de Nutrição e Dietética, conclui-se 47,1% estavam efetivamente desnutridos, tendo-se procedido à adaptação da dieta alimentar no hospital e à introdução de suplementos alimentares. Findo o internamento, foi-lhes prescrito um plano nutricional para cumprir em casa.

Sandra Marília sublinha que, entre os idosos internados, a razão da desnutrição está associada às patologias do paciente, havendo casos, também, de má nutrição por carência económica e por desconhecimento. “O rastreio da desnutrição na admissão hospitalar”, recomendado por resolução do Conselho Europeu desde 2003 para todos os doentes hospitalizados, “permite reduzir o tempo de internamento, o risco de complicações e as readmissões, melhorando os indicadores clínicos” e reduzindo os custos dos cuidados de saúde, entende a equipa responsável pelo projeto Qualife+, financiado pelo programa EEA Grants, com fundos provenientes da Noruega.

“Tínhamos dificuldade em conhecer a situação dietética dos doentes do hospital e o financiamento do mecanismo europeu EEA Grants permitiu a aquisição do equipamento necessário e fazer esta avaliação centrada nos idosos. Em maio de 2015, informatizámos todos os instrumentos de rastreio” e a recolha de dados começou em novembro desse ano, especifica a coordenadora da Unidade de Nutrição e Dietética do S. João. O projeto Qualife+ termina este mês.

Em simultâneo, o centro hospitalar fechou uma parceria com os agrupamentos dos centros de saúde Porto Oriental e Santo Tirso/Trofa para monitorizar o estado nutricional dos idosos em comunidade. Aleatoriamente, foi avaliado um grupo de 2324 utentes dos dois agrupamentos: 14,2% apresentaram risco de desnutrição e 23,6% estavam desnutridos.

“Os doentes em risco foram chamados para a consulta de nutrição. Houve muitas situações em que o paciente não se deslocou à consulta, porque não tinha condições económicas para fazê-lo”, acrescenta. Nesses casos, a equipa foi ao local de residência (casa ou lar), fez a avaliação do estado de nutrição e procedeu ao aconselhamento alimentar e ao alerta à necessidade de hidratação.

Este projeto foi o pontapé de saída para a criação de novos procedimentos em ambiente hospitalar, que não se perderão com a sua conclusão. “O procedimento de rastreio nutricional está montado e continuará a ser utilizado. Tentaremos alargá-lo a outros doentes no hospital”, de forma faseada, atenta, ainda, Sandra Marília. Neste momento, todos os doentes internados no serviço de Medicina Interna (que tem mais de 200 camas) do Hospital de S. João, exceto os que cumprem internamentos de pequena duração por causa da realização de exames, estão a ser submetidos a esta avaliação.

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